domingo, 3 de abril de 2016

Da lama ao caos

O rompimento da barragem de rejeitos da empresa Samarco em Mariana pavimentou pequenos rios por onde passou. E o tsunami ainda matou o rio Doce, importante manancial que liga Minas Gerais ao litoral capixaba. É simplesmente impossível mensurar o tamanho do prejuízo para a fauna e a flora. E o que dizer das vidas humanas levadas pelo mar de lama?

O “acidente” abriu os olhos de todos para as represas onde as empresas, após retirar o minério de ferro, depositam os rejeitos desta operação. Existem mais de quatrocentas só no estado de Minas. E em pelo menos 27 delas não há sequer informações acerca das condições estruturais. Um total acinte. Este não foi o primeiro “acidente” e, infelizmente, não deve ser o último a julgar pelas ações titubeantes por parte da empresa responsável pelo acontecido e também pelos governos.

Numa entrevista coletiva nesta semana, um jornalista perguntou para um diretor da Samarco se a empresa devia desculpas pelo “acidente”. Nem sei se a pergunta seria adequada naquele momento, mas felizmente foi feita. A resposta protocolar é que foi um desastre. O moço saiu pela tangente e disse que não é caso para desculpas. É verdade. Pedir desculpas é algo tão óbvio, tão básico, que não deveria sequer ser mencionada no circo midiático em que se transformou a coletiva, e sim deveria ter sido a primeiríssima providência a ser tomada por quem causou o impacto, tendo culpa ou não. Afinal pessoas morreram, lugarejos foram riscados do mapa e milhões de peixes e outros animais pereceram.

Otto Lara Resende disse, certa vez, que o mineiro era solidário apenas no câncer. Os fatos em Mariana, e posteriormente em Governador Valadares, mostraram que a máxima, embora curiosa, não é verdadeira. Diante da força da mobilização do povo, ficou a certeza de que ninguém está sozinho na aldeia global digitalizada em que nos metemos.

As redes sociais só não desempenharam papel mais relevante, graças à quantidade de informações errôneas que parecem se disseminar numa velocidade maior do que os fatos propriamente ditos. São os revezes deste “jornalismo sem filtro” inaugurado, sobretudo, pelo Whatsapp, mas que não tiram os méritos dos furos alcançados por pessoas comuns munidas de celular e senso de oportunidade.Portanto, caso não tenha percebido, a foto de uma menininha enlameada com um cachorrinho não era em Mariana, assim como a imagem da Praça dos Três Poderes em Brasília apinhada de gente não foi no feriado de quinze de novembro e sim no histórico junho de 2013. E os meios de comunicação, -todos eles!-, não deixaram de mostrar esse “fato histórico” e priorizou a cobertura dos outros acontecimentos da semana: Paris e Mariana.

Noutros tempos, antes das privatizações do governo FHC, a Vale, empresa que controla a Samarco, tinha em seu nome um complemento interessante. Era a “Vale do Rio Doce“, lembra? E hoje sequer um pedido de desculpas “vale” pela lama jogada no rio. Doce ironia. 

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