segunda-feira, 9 de março de 2015

Discurso de posse na Academia Montesclarense de Letras

Saúdo neste momento a presidente da Academia Montesclarense de Letras, Dona Yvonne Silveira, que se recupera de um problema de saúde, e por essa razão não está aqui nesta noite memorável. E como ela gostaria de estar aqui... Peçamos a Deus pela sua recuperação.

E cumprimento também todos os integrantes desta Mesa de Honra, meus confrades e confreiras.
Gostaria de saudar também todos os presentes. Minha família, meus amigos...
Boa noite a todos!

Hoje é uma noite para celebrarmos a vida, as letras, a amizade, mas não posso iniciar este texto sem deixar de mencionar que ano passado a humanidade ficou mais empobrecida. Tivemos perdas irreparáveis na Literatura. Despedimos-nos do poeta Manoel de Barros, que queria renovar o homem usando borboletas. É de sua lavra: “A maior riqueza do homem é a sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou, eu não aceito”. Outro que se encantou foi João Ubaldo Ribeiro, genial escritor baiano. E ainda teve a partida de Ariano Suassuna. Pois é, “não sei, só se que foi assim”. E assim ficamos mais banais. E como se não bastasse, ainda perdemos Gabriel Garcia Marquez.

Meu filho mais velho se chama Gabriel por causa dele. E também, é claro, pelo Anjo da Anunciação. E Gabbo anunciou ao mundo que aqui nos trópicos tem escritores merecedores de láureas como o Nobel de literatura. E ele foi Jornalista a vida toda. Escreveu certa vez que a “A ética deve acompanhar o jornalista como o zumbido acompanha o besouro”. Procuro seguir este ensinamento todos os dias na profissão que escolhi.


Com tio Chico Bodocó

E em 2014, ano que, por essas razões, foi longo demais, também perdemos dois grandes escritores da nossa região, o primeiro deles é o meu colega jornalista Luiz Carlos Peré, a quem dedico este momento.  E também Haroldo Lívio de Oliveira, que nasceu em 21 de setembro de 1938 em Brasília de Minas, filho de José Luiz de Oliveira e Dalva de Oliveira. É a cadeira dele, a de número 26, que agora passo, com muita honra, a ocupar. Em seus 76 anos de vida, Haroldo Lívio foi oficial de Registro de Imóveis da comarca de Porteirinha e, antes disso, também foi funcionário do Banco do Brasil. Cursou Direito na Universidade Estadual de Montes Claros, onde colou grau em 1971.

Trabalhou na imprensa, ou melhor, “militou na Imprensa”, como gostava de dizer a partir de 1956, tendo colaborado no O Jornal de Montes Claros, na revista Encontro e no Jornal de Notícias. Quando se comemorou a efeméride de um século da imprensa em Montes Claros ele foi um dos laureados com diploma de honra. Em vida publicou apenas um livro “Nelson Vianna, o personagem”, e deixou uma obra inédita: “Chico Dominguinho e outros montesclarenses”. Era membro efetivo tanto da Academia de Letras quanto do Instituto Histórico e Geográfico.

Haroldo Lívio era conhecido também pela notável memória. Era capaz de citar datas, acontecimentos e pessoas com espantosa facilidade. Ficam também para a posteridade o seu jeito de bom pai e exemplar marido.

Em 2007 vivemos uma feliz coincidência. À época eu trabalhava na assessoria de comunicação da Prefeitura de Montes Claros, na administração de Dr. Athos Avelino, e fui o Mestre de Cerimônias na entrega de medalhas de ouro pelos 150 anos de Montes Claros a 150 personalidades de nossa terra. Uma noite com a presença do então governador de Minas Gerais, Aécio Neves, e do presidente da república em exercício, José Alencar. Nesta noite eu anunciei o nome de Haroldo Lívio e o convidei para receber sua medalha.

O primeiro imortal a ocupar a cadeira 26 foi o escritor e político Arthur Jardim de Castro Gomes. Ele nasceu em Queluz de Minas, antigo nome de Conselheiro Lafaiete. Filho de José Henrique de Castro Gomes e de dona Celestina Jardim de Castro Gomes, fez os cursos primário e secundário em Belo Horizonte, onde também fez o curso superior, na Escola de Engenharia e Escola Superior de Agronomia e Veterinária. Conseguiu um feito político. Foi prefeito de dois municípios mineiros: Francisco Sá e de Corinto.


Com meu filho Felipe

Na vida literária ele escreveu e publicou o livro “Água Quente ou Montezuma”, no ano de 1987. O autor dizia que a obra retrata a áspera, e por vezes perigosa, saga do interior do país, as experiências e observações acumuladas nesse arquivo e painel que parece ser a mente humana. O acadêmico Arthur Jardim de Castro Gomes ainda escreveu, e não publicou, os livros: “Apenas um Curato”, “Rumos, Caminhos e Bandeiras”, “Auto da Inconfidência” e “Gente Campesina”.

Outro nome faz parte da história da cadeira de número 26: o do escritor e professor que viveu grande parte de sua vida em Grão Mogol, Polidoro dos Reis Figueiredo, que foi escolhido como patrono por seus relevantes trabalhos. Ele nasceu em São José de Bicas, na região metropolitana de Belo Horizonte no dia 27 de março de 1864 e faleceu em 2 de julho de 1949. Exímio professor de Português, foi diretor do Colégio Diocesano de Montes Claros e também lecionou no Colégio Dom Pedro I, no Rio de Janeiro. Uma parte da vida dele foi no Serro e outra em Diamantina.

Ele era avô do ex-prefeito de Grão Mogol por quatro vezes, Afrânio Augusto Figueiredo, e bisavô do atual prefeito, também na quarta administração, Jéferson Augusto Figueiredo.

Segundo as palavras do escritor grãomogolense Alberto Sena, Polidoro era “um homem escorreito, elegante no trajar, personalidade forte, um intelectual escrevinhador de versos”.

Nas primeiras núpcias, ele se casou com Bernardina, com quem teve 10 filhos. Viúvo casou-se com a irmã dela, Guilhermina, com quem teve mais sete filhos, entre os quais Augusto, pai de Afrânio Augusto Figueiredo, e avô do atual prefeito de Grão Mogol.

Infelizmente não há informações fartas acerca deste imortal, mas ele foi relevante também na capital do Estado, Belo Horizonte, pois o nome dele foi objeto de Lei exclusiva de 1954, que concedeu-lhe jazigo perpétuo no Cemitério do Bonfim, onde está sepultado.

De acordo com a pesquisa que fiz, Polidoro escrevia poemas, mas não há registro destes escritos, infelizmente. Mas dos feitos há comprovações. O escritor Nélson Viana fez uma vasta pesquisa para o livro "Efemérides Montesclarenses", que cobre o período de 1707 a 1962, revelando o que aconteceu de mais importante no cotidiano da cidade. No dia 2 de abril de 1928, segundo nos conta, foi realizada a cerimônia de instalação da Escola Norma Oficial de Montes Claros, que tinha como diretor Luiz Gonzaga Pereira da Fonseca. Estava presente no evento também o professor Polidoro dos Reis Figueiredo, então Inspetor Regional do Ensino.


A posse

Depois de discorrer sobre aqueles me precederam esclarece-se enfim o porquê de se referir aos acadêmicos como “imortais”. Todo mundo já deve ter feito esta pergunta. A imortalidade nada mais é do que isso: ser lembrado na Academia por toda a eternidade, uma vez que o assento 26, como todos os outros, assim como os diamantes de James Bond, são eternos.

Ao contrário de todos nós. Aliás, se houvesse imortalidade de fato esta seria muito chata. Deixemo-la no campo metafórico e tratemos de aproveitar cada dia de vida nesta dimensão.

Estou na faixa dos trinta anos.  Tenho colegas aqui na Academia que vivem plenamente os quarenta e poucos, ou os cinqüenta e tantos, os sessenta, e até mesmo os maravilhosos oitenta anos de Petrônio Braz e Wanderlino Arruda  e os fabulosos cem anos de Dona Ivonne, nossa presidente.

Tem uma observação maravilhosa do poeta Mário Quintana sobre a passagem do tempo. Ao ser perguntado sobre como se sentia quando entrara na casa dos sessenta anos, ele disse: “Não sinto nada. A linha dos sessenta, como a dos cinqüenta ou dos quarenta anos, é uma linha imaginária, como a do Equador. O navio não dá o mínimo solavanco quando a gente atravessa”.

Por isso vivamos cada instante, e este que vivo agora é um dos mais marcantes de minha vida tenham certeza disso.

Gostaria, por fim, de agradecer algumas pessoas que estão nesta solenidade. A minha família, que veio de Serranópolis de Minas, de Janaúba, de Belo Horizonte, obrigado a todos, em especial aos meus pais Almir e Fátima, minhas irmãs Leila e Grazi, meus primos, tios, cunhados, sobrinhos e afilhados. E dedico em especial a minha amada Vó Laurinda que, no mês que vem, atravessa a linha imaginária dos 90 anos e segue radiosa e inteligente como sempre foi.

Dedico também a minha sobrinha Isabela e aproveito para parabenizá-la pela aprovação no curso de Medicina. Espero ter conseguido inspirá-la de alguma forma nesta caminhada. Certamente ela, e também sua irmã Gabriela, me inspiram.


Com Wanderlino Arruda

Gostaria de cumprimentar e agradecer pela presença aos pais de minha esposa, Magela e Ivone.
Já éramos confrades do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, e agora somos também da Academia de Letras: meu padrinho e dileto amigo Itamaury Teles. Pessoa pela qual nutro admiração e respeito.

Meus queridos amigos da “Diretoria”, que bom que vieram. Obrigado por estarem aqui. Já foi dito certa vez que amigos são a família que temos a chance de escolher. E vocês já fazem parte de minha vida, e de minha família. Obrigado.

Meus colegas jornalistas. Agradeço ao meu amigo Cácio Xavier e a toda audiência da emissora em que trabalho, a InterTV Grande Minas, sobretudo do jornal que apresento ao lado de minha colega Maíra Botelho e também aos meus colegas da externa, da produção e da edição.

Agradeço ainda, e parabenizo, os acadêmicos que passam a fazer parte, junto comigo, desta Casa: Juvenal Caldeira e Jarbas Oliveira.

Gostaria de agradecer também a família Fundação Sara. Tenho orgulho de ser voluntário e, além disso, estou Conselheiro da entidade. Algo que me deixa muito orgulhoso. Fundação Sara que é liderada pela querida Marlene e pelo também serranopolitano Álvaro, o filho do saudoso seu Gaspar e de dona Ieda, queridos amigos de minha família.


Com Amelina Chaves e Cácio Xavier
Por fim, gostaria de agradecer profundamente a minha esposa Camila, por ser minha companheira, minha mulher e mãe dos meninos mais inteligentes e bonitos desta terra, os meus: Gabriel e Felipe.

Gostaria de agradecer a cada um e dizer:
“Da vida não peço tanto assim. Meus sonhos são banais. Liberdade é o que peço. Um pouco de amor, respeito e nada mais”.

Obrigado!



Dicas culturais para atingirmos a imortalidade da alma:

Filme: Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson. Fotografia perfeita, que já o torna imortal


Álbum: O disco "Policromo" da banda 5 a Seco


Livro: Estou imerso em "Humano, demasiado humano", de Nietzsche

0 comentários:

Postar um comentário