Saúdo neste momento a
presidente da Academia Montesclarense de Letras, Dona Yvonne Silveira, que se
recupera de um problema de saúde, e por essa razão não está aqui nesta noite
memorável. E como ela gostaria de estar aqui... Peçamos a Deus pela sua
recuperação.
E cumprimento também todos
os integrantes desta Mesa de Honra, meus confrades e confreiras.
Gostaria de saudar
também todos os presentes. Minha família, meus amigos...
Boa noite a todos!
Hoje é uma noite para
celebrarmos a vida, as letras, a amizade, mas não posso iniciar este texto sem
deixar de mencionar que ano passado a humanidade ficou mais empobrecida.
Tivemos perdas irreparáveis na Literatura. Despedimos-nos do poeta Manoel de
Barros, que queria renovar o homem usando borboletas. É de sua lavra: “A maior
riqueza do homem é a sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que
me aceitam como sou, eu não aceito”. Outro que se encantou foi João Ubaldo
Ribeiro, genial escritor baiano. E ainda teve a partida de Ariano Suassuna. Pois
é, “não sei, só se que foi assim”. E assim ficamos mais banais. E como se não bastasse,
ainda perdemos Gabriel Garcia Marquez.
Meu filho mais velho se
chama Gabriel por causa dele. E também, é claro, pelo Anjo da Anunciação. E
Gabbo anunciou ao mundo que aqui nos trópicos tem escritores merecedores de
láureas como o Nobel de literatura. E ele foi Jornalista a vida toda. Escreveu
certa vez que a “A ética deve acompanhar o jornalista como o zumbido acompanha
o besouro”. Procuro seguir este ensinamento todos os dias na profissão que
escolhi.
Com tio Chico Bodocó |
E em 2014, ano que, por
essas razões, foi longo demais, também perdemos dois grandes escritores da
nossa região, o primeiro deles é o meu colega jornalista Luiz Carlos Peré, a quem
dedico este momento. E também Haroldo
Lívio de Oliveira, que nasceu em 21 de setembro de 1938 em Brasília de Minas,
filho de José Luiz de Oliveira e Dalva de Oliveira. É a cadeira dele, a de
número 26, que agora passo, com muita honra, a ocupar. Em seus 76 anos de vida,
Haroldo Lívio foi oficial de Registro de Imóveis da comarca de Porteirinha e,
antes disso, também foi funcionário do Banco do Brasil. Cursou Direito na
Universidade Estadual de Montes Claros, onde colou grau em 1971.
Trabalhou na imprensa,
ou melhor, “militou na Imprensa”, como gostava de dizer a partir de 1956, tendo
colaborado no O Jornal de Montes Claros, na revista Encontro e no Jornal de
Notícias. Quando se comemorou a efeméride de um século da imprensa em Montes
Claros ele foi um dos laureados com diploma de honra. Em vida publicou apenas
um livro “Nelson Vianna, o personagem”, e deixou uma obra inédita: “Chico
Dominguinho e outros montesclarenses”. Era membro efetivo tanto da Academia de
Letras quanto do Instituto Histórico e Geográfico.
Haroldo Lívio era
conhecido também pela notável memória. Era capaz de citar datas, acontecimentos
e pessoas com espantosa facilidade. Ficam também para a posteridade o seu jeito
de bom pai e exemplar marido.
Em 2007 vivemos uma
feliz coincidência. À época eu trabalhava na assessoria de comunicação da
Prefeitura de Montes Claros, na administração de Dr. Athos Avelino, e fui o
Mestre de Cerimônias na entrega de medalhas de ouro pelos 150 anos de Montes
Claros a 150 personalidades de nossa terra. Uma noite com a presença do então
governador de Minas Gerais, Aécio Neves, e do presidente da república em
exercício, José Alencar. Nesta noite eu anunciei o nome de Haroldo Lívio e o
convidei para receber sua medalha.
O primeiro imortal a
ocupar a cadeira 26 foi o escritor e político Arthur Jardim de Castro Gomes.
Ele nasceu em Queluz de Minas, antigo nome de Conselheiro Lafaiete. Filho de
José Henrique de Castro Gomes e de dona Celestina Jardim de Castro Gomes, fez
os cursos primário e secundário em Belo Horizonte, onde também fez o curso
superior, na Escola de Engenharia e Escola Superior de Agronomia e Veterinária.
Conseguiu um feito político. Foi prefeito de dois municípios mineiros: Francisco
Sá e de Corinto.
Com meu filho Felipe |
Na vida literária ele
escreveu e publicou o livro “Água Quente ou Montezuma”, no ano de 1987. O autor
dizia que a obra retrata a áspera, e por vezes perigosa, saga do interior do
país, as experiências e observações acumuladas nesse arquivo e painel que
parece ser a mente humana. O acadêmico Arthur Jardim de Castro Gomes ainda
escreveu, e não publicou, os livros: “Apenas um Curato”, “Rumos, Caminhos e
Bandeiras”, “Auto da Inconfidência” e “Gente Campesina”.
Outro nome faz parte da
história da cadeira de número 26: o do escritor e professor que viveu grande
parte de sua vida em Grão Mogol, Polidoro dos Reis Figueiredo, que foi
escolhido como patrono por seus relevantes trabalhos. Ele nasceu em São José de
Bicas, na região metropolitana de Belo Horizonte no dia 27 de março de 1864 e
faleceu em 2 de julho de 1949. Exímio professor de Português, foi diretor do
Colégio Diocesano de Montes Claros e também lecionou no Colégio Dom Pedro I, no
Rio de Janeiro. Uma parte da vida dele foi no Serro e outra em Diamantina.
Ele era avô do
ex-prefeito de Grão Mogol por quatro vezes, Afrânio Augusto Figueiredo, e bisavô
do atual prefeito, também na quarta administração, Jéferson Augusto Figueiredo.
Segundo as palavras do
escritor grãomogolense Alberto Sena, Polidoro era “um homem escorreito,
elegante no trajar, personalidade forte, um intelectual escrevinhador de
versos”.
Nas primeiras núpcias,
ele se casou com Bernardina, com quem teve 10 filhos. Viúvo casou-se com a irmã
dela, Guilhermina, com quem teve mais sete filhos, entre os quais Augusto, pai
de Afrânio Augusto Figueiredo, e avô do atual prefeito de Grão Mogol.
Infelizmente não há
informações fartas acerca deste imortal, mas ele foi relevante também na
capital do Estado, Belo Horizonte, pois o nome dele foi objeto de Lei exclusiva
de 1954, que concedeu-lhe jazigo perpétuo no Cemitério do Bonfim, onde está
sepultado.
De acordo com a
pesquisa que fiz, Polidoro escrevia poemas, mas não há registro destes
escritos, infelizmente. Mas dos feitos há comprovações. O escritor Nélson Viana
fez uma vasta pesquisa para o livro "Efemérides Montesclarenses", que
cobre o período de 1707 a 1962, revelando o que aconteceu de mais importante no
cotidiano da cidade. No dia 2 de abril de 1928, segundo nos conta, foi
realizada a cerimônia de instalação da Escola Norma Oficial de Montes Claros,
que tinha como diretor Luiz Gonzaga Pereira da Fonseca. Estava presente no
evento também o professor Polidoro dos Reis Figueiredo, então Inspetor Regional
do Ensino.
A posse |
Depois de discorrer
sobre aqueles me precederam esclarece-se enfim o porquê de se referir aos
acadêmicos como “imortais”. Todo mundo já deve ter feito esta pergunta. A
imortalidade nada mais é do que isso: ser lembrado na Academia por toda a
eternidade, uma vez que o assento 26, como todos os outros, assim como os diamantes
de James Bond, são eternos.
Ao contrário de todos
nós. Aliás, se houvesse imortalidade de fato esta seria muito chata. Deixemo-la
no campo metafórico e tratemos de aproveitar cada dia de vida nesta dimensão.
Estou na faixa dos
trinta anos. Tenho colegas aqui na
Academia que vivem plenamente os quarenta e poucos, ou os cinqüenta e tantos,
os sessenta, e até mesmo os maravilhosos oitenta anos de Petrônio Braz e
Wanderlino Arruda e os fabulosos cem
anos de Dona Ivonne, nossa presidente.
Tem uma observação
maravilhosa do poeta Mário Quintana sobre a passagem do tempo. Ao ser
perguntado sobre como se sentia quando entrara na casa dos sessenta anos, ele disse:
“Não sinto nada. A linha dos sessenta, como a dos cinqüenta ou dos quarenta
anos, é uma linha imaginária, como a do Equador. O navio não dá o mínimo
solavanco quando a gente atravessa”.
Por isso vivamos cada
instante, e este que vivo agora é um dos mais marcantes de minha vida tenham
certeza disso.
Gostaria, por fim, de
agradecer algumas pessoas que estão nesta solenidade. A minha família, que veio
de Serranópolis de Minas, de Janaúba, de Belo Horizonte, obrigado a todos, em
especial aos meus pais Almir e Fátima, minhas irmãs Leila e Grazi, meus primos,
tios, cunhados, sobrinhos e afilhados. E dedico em especial a minha amada Vó
Laurinda que, no mês que vem, atravessa a linha imaginária dos 90 anos e segue
radiosa e inteligente como sempre foi.
Dedico também a minha
sobrinha Isabela e aproveito para parabenizá-la pela aprovação no curso de Medicina.
Espero ter conseguido inspirá-la de alguma forma nesta caminhada. Certamente
ela, e também sua irmã Gabriela, me inspiram.
Com Wanderlino Arruda |
Gostaria de
cumprimentar e agradecer pela presença aos pais de minha esposa, Magela e
Ivone.
Já éramos confrades do
Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, e agora somos também da
Academia de Letras: meu padrinho e dileto amigo Itamaury Teles. Pessoa pela
qual nutro admiração e respeito.
Meus queridos amigos da
“Diretoria”, que bom que vieram. Obrigado por estarem aqui. Já foi dito certa vez
que amigos são a família que temos a chance de escolher. E vocês já fazem parte
de minha vida, e de minha família. Obrigado.
Meus colegas
jornalistas. Agradeço ao meu amigo Cácio Xavier e a toda audiência da emissora
em que trabalho, a InterTV Grande Minas, sobretudo do jornal que apresento ao
lado de minha colega Maíra Botelho e também aos meus colegas da externa, da
produção e da edição.
Agradeço ainda, e
parabenizo, os acadêmicos que passam a fazer parte, junto comigo, desta Casa:
Juvenal Caldeira e Jarbas Oliveira.
Gostaria de agradecer
também a família Fundação Sara. Tenho orgulho de ser voluntário e, além disso,
estou Conselheiro da entidade. Algo que me deixa muito orgulhoso. Fundação Sara
que é liderada pela querida Marlene e pelo também serranopolitano Álvaro, o
filho do saudoso seu Gaspar e de dona Ieda, queridos amigos de minha família.
Com Amelina Chaves e Cácio Xavier |
Por fim, gostaria de
agradecer profundamente a minha esposa Camila, por ser minha companheira, minha
mulher e mãe dos meninos mais inteligentes e bonitos desta terra, os meus:
Gabriel e Felipe.
Gostaria de agradecer a
cada um e dizer:
“Da vida não peço tanto
assim. Meus sonhos são banais. Liberdade é o que peço. Um pouco de amor,
respeito e nada mais”.
Obrigado!
Dicas culturais para atingirmos a imortalidade da alma:
Filme: Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson. Fotografia perfeita, que já o torna imortal
Álbum: O disco "Policromo" da banda 5 a Seco
Livro: Estou imerso em "Humano, demasiado humano", de Nietzsche
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