terça-feira, 28 de julho de 2015

Vidas Áridas- Um breve resumo das atividades feitas até agora


O projeto Vidas Áridas surgiu da iniciativa dos jornalistas Geraldo Humberto e Délio Pinheiro, funcionários da afiliada mineira da Rede Globo nas regiões norte, noroeste, central e Vale do Jequitinhonha, a InterTV Grande Minas. O projeto começou em 2012 quando os jornalistas realizaram uma viagem ao extremo norte do estado para registrar aquela que foi, até agora, a maior seca que o estado já enfrentou em cerca de um século. O objetivo era registrar em fotografias, e também em reportagem para a emissora, este momento crítico. De volta da viagem eles lançaram em 2013 a exposição “Fome de água no sertão”, que deu início ao projeto.
Morador da zona rural de Espinosa

Antes de tudo um forte
O nome Vidas Áridas é uma homenagem a famosa obra de Graciliano Ramos, Vidas Secas. Ainda em 2012 o projeto ganhou contornos que nem os próprios criadores supunham, já que sob a bandeira do Vidas Áridas vieram se abrigar parceiros que enxergaram no projeto uma oportunidade para a sociedade exprimir suas opiniões acerca de assuntos tão importantes, como a correta utilização dos recursos hídricos.

Logomarca do Instituto
Neste mesmo ano foram realizadas as chamadas “Caravanas Vidas Áridas”, nas cidades de Serranópolis de Minas, Pai Pedro e Taiobeiras. Oportunidades em que foram discutidos, em audiências públicas, assuntos relevantes de cada lugar. Neste mesmo ano os idealizadores passaram a ministrar palestras em empresas e escolas, sempre com o objetivo de despertar a consciência ambiental das pessoas.

Vidas Áridas em Pai Pedro
Vidas Áridas em Serranópolis
Em 2013 o Vidas Áridas passou a participar de grandes discussões regionais, como a defesa da retomada das obras do reservatório de Berizal, no Alto Rio Pardo. Neste ano o Vidas Áridas passou a contar com dezenas de colaboradores eventuais e um permanente, o ambientalista Sóter Magno, que preside a ong OVIVE, Organização Vida Verde, importante parceira nesta caminhada. 
Quando a objetividade do jornalismo chega ao fim
Uma grande bandeira: A retomada das obras de Berizal
Neste ano o projeto fez várias viagens a Belo Horizonte, Brasília e a Fortaleza, no Ceará, sempre em defesa dos interesses regionais no que diz respeito ao aproveitamento consciente da água, matéria prima tão necessária e cada vez mais escassa.
Entrevista com o governador de Minas
Viagem a Fortaleza pelo Vidas Áridas
Neste mesmo ano foi feita a primeira Expedição Vidas Áridas. Durante uma semana os jornalistas, acompanhados de diversos parceiros, percorreram novamente o extremo norte do estado e o Alto Rio Pardo para uma série de reportagens para a InterTV e também para captar imagens para um nova exposição. O resultado foi surpreendente. A exposição “Quem tem sede não pode esperar” revelou regiões e pessoas devastadas pelo clima. O Vidas Áridas ganhou reconhecimento e ainda mais visibilidade. Neste ano foram feitas dezenas de palestras e o movimento passou a fazer, em definitivo, parte da vida de milhares de pessoas.
Partida da primeira expedição
Em 2014 o Vidas Áridas se lançou em um projeto ainda mais ambicioso. Foi feita novamente uma grande expedição, e o foco foi o rio São Francisco. Durante duas semanas aventureiros percorreram o rio da represa de Três Marias ao estado da Bahia, retratando as dificuldades de navegação, o sumiço dos peixes e o desalento dos barranqueiros.
Foto linda no município de Catuti
O ano não poderia ser mais apropriado para uma expedição como essa, pois foi quando ficaram escancarados os problemas gigantescos do rio. Uma das nascentes principais do Velho Chico, em São Roque de Minas, secou e nunca o lago de Três Marias ficou tão vazio. A capacidade acima do mínimo ficou inferior a três por cento. Neste quadro sombrio o trabalho ganhou repercussão nacional. Uma série de reportagens foi exibida na InterTV e também na Globo Minas e os olhos da nação se voltaram para a região.
Os idealizadores contam que, a partir deste momento, ficou impossível aceitar todos os convites para palestras e o envolvimento em causas diversas. Simplesmente os problemas eram imensuráveis e não havia condições técnicas e humanas para dar conta da demanda.
Singrando o Velho Chico
Mas longe de ser um problema, isso foi visto como uma oportunidade para posicionar o Vidas Áridas como a principal voz em defesa dos recursos hídricos, sobretudo do São Francisco, no norte de Minas. Um projeto que não tem viés político partidário e que não está a serviço de nenhum partido ou político. O projeto, criado por dois jornalistas, agora se fazia representar por milhares de pessoas que passaram a bater no peito e dizer, com orgulho: “Eu também sou Vidas Áridas”.
Antonio Jackson e Délio Pinheiro, membros do Vidas Áridas
Em 2015 foi lançada a terceira exposição fotográfica intitulada “Salvem-me para que eu possa salvar vocês”. O grito de socorro do São Francisco ficou, como as outras duas mostras, em exposição no principal centro de compras de Montes Claros e passou por diversas cidades, como Pirapora, Japonvar, Matias Cardoso e também em Brasília, Distrito Federal.
Em Pirapora
Neste momento os idealizadores já computavam dezenas e dezenas de palestras proferidas e muitas ações, mas ainda havia o desejo de tornar o Vidas Áridas ainda mais atuante. A ideia é que o movimento pudesse não apenas mobilizar, mas também realizar ações. Foi assim que surgiu o projeto “Nascente Viva”, em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Montes Claros.
No Dia Mundial da Água, o Vidas Áridas, e seus parceiros, cercaram a nascente do córrego Gameleiras em Montes Claros. Foi o projeto piloto de uma ação de longo prazo que pretende cercar todas as nascentes do município. A ideia principal é que essa ação possa inspirar outras cidades e pessoas a fazerem o mesmo com seus mananciais. As nascentes da região do Córrego Matias serão as próximas a serem cercadas pelo projeto, que se fortaleceu e hoje conta com dezenas de apoiadores diretos, entre eles o Exército Brasileiro.

Um passo em relação ao futuro
Um gesto, um exemplo
Outra ação desenvolvida em 2015 foi a limpeza de uma área do rio Vieiras, afluente do Verde Grande, no município de Montes Claros. Com parceiros, entre eles a COPASA e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, foram retiradas mais de trinta toneladas de lixo da calha do pequeno afluente, que faz parte da bacia hidrográfica do São Francisco. E outras ações como essas estão previstas para os próximos meses.

O diagnóstico
A ação humana
A limpeza
Em julho de 2015, o Vidas Áridas se juntou a um grande parceiro, o projeto Manuelzão, criado pelo doutor em educação, médico e ambientalista Apolo Heringer. Ele e outros parceiros se juntaram em Matias Cardoso para a criação de um documento que pretende nortear as ações em prol da revitalização imediata do São Francisco.
A Missiva, intitulada “Carta de Morrinhos”, numa referência ao antigo nome da primeira freguesia do estado de Minas Gerais, deve chegar às mãos das principais autoridades do país. A expectativa é que dela surjam ações emergenciais em defesa do rio. O professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Flávio Pimenta, resumiu em apenas três palavras a postura do Vidas Áridas: “Ação, ação e ação!”.
Geraldo Humberto e Apolo Heringer
Reunião no banco de areia
Também em julho os integrantes do projeto, Geraldo Humberto, Délio Pinheiro e Sóter Magno, foram convidados para falar na Comissão Externa da Transposição do São Francisco no Congresso Nacional, em Brasília. Durante quase três horas os ambientalistas bateram fortemente na tecla da importância da revitalização do rio, sob pena de não ter água suficiente para os irmãos nordestinos a serem beneficiados pelas obras da transposição, que já estariam 85% finalizadas, conforme foi informado na audiência. Já foi dito que “um anêmico não deveria doar sangue”, e é essa a impressão que temos em relação ao Rio da Integração Nacional. A audiência contou com a participação de dezenas de deputados e de um senador de Sergipe, Eduardo Amorim.

Fala de Sóter Magno em Brasília
A nova exposição do Vidas Áridas foi montada em uma das galerias da Câmara dos Deputados e centenas de pessoas, entre elas muitos deputados, viram as imagens do ocaso que vive o nosso rio mais importante.
Para 2015 ainda estão previstas várias atividades a serem desenvolvidas pelo Vidas Áridas. A exposição completa de fotografias passará por Januária e Três Marias, e em outras cidades a serem confirmadas nos próximos meses.
A entrega da “Carta de Morrinhos” deverá ser feita, entre outros lugares, em Brasília. Autoridades estaduais e nacionais com representação na bacia do São Francisco receberão o documento, e se comprometerão a defendê-lo e a implantá-lo.
O projeto ainda vai realizar uma nova expedição pelo Velho Chico. O foco desta vez serão os afluentes do São Francisco, tão castigados pela seca que já dura pelo menos cinco anos na região. Os rios Paracatu, Velhas, Jequitaí e Verde Grande são alguns que devem receber os expedicionários. A previsão é que a nova “aventura da cidadania” aconteça em outubro ou novembro.
Em novembro, entre os dias cinco e sete, em Montes Claros, o Vidas Áridas realiza um Congresso Internacional com a participação de milhares de alunos e professores, de instituições nacionais e estrangeiras. Em foco as discussões e ações a serem implementadas nos próximos anos.
Grande ação para pensar o Brasil
Outros dois grandes projetos a serem desenvolvidos nos próximos meses é a publicação de dois livros. Um deles trará as fotografias e os bastidores das duas primeiras exposições fotográficas feitas pelo projeto. E outro, obviamente, será específico sobre a “Expedição Velho Chico”.
E ainda haverá as palestras em escolas públicas, quando são levadas algumas fotografias da exposição e exibido o documentário da expedição pelo Velho Chico. Cidades como Salinas e Montalvânia já contataram o projeto, que também conta com dezenas de convites de escolas públicas, a serem atendidos nos próximos meses. Os idealizadores fazem questão de salientar que não há nenhum tipo de custo quando as palestras são feitas em locais como escolas públicas, igrejas, associações de moradores e em outros lugares onde não há fins lucrativos, como é a própria essência do Vidas Áridas.
Palestra no Colégio Unimax
Palestra em escola municipal
Palestra no Parque Municipal
Depois de passados quase quatro anos desde o início desta história, pode-se dizer que nem os idealizadores do projeto imaginavam que o Vidas Áridas ganharia tanta repercussão e relevância em tão pouco tempo. Mas isso não aconteceu por acaso. Certamente o apoio da InterTV Grande Minas é preponderante para o êxito do projeto, que se estrutura para se tornar um instituto formalizado, com vistas a potencializar ainda mais as ações já desempenhadas até aqui. “O Vidas Áridas é hoje um braço social da emissora, e para nós é uma honra contar com o apoio da empresa onde trabalhamos”, registrou Geraldo Humberto.

Antonio Jackson é entrevistado no MGTV
Outro motivo para o sucesso do Vidas Áridas é a relevância dos assuntos abordados pelo projeto e a abnegação dos que fazem parte da linha de frente, entre os quais se destacam ambientalistas, professores e acadêmicos, que podem se vangloriar de estar fazendo sua parte diante do quadro desolador criado pelo próprio homem. E se cada vez mais outras pessoas dedicarem seu tempo e seu esforço, e isso certamente inclui os políticos, poderemos minimizar os efeitos da ação deletéria do próprio ser humano em nosso planeta. E esse o chamado que o Vidas Áridas faz.Você aceita fazer parte da geração que pode ter começado a salvar a Terra? Se sim, já sabe o que fazer: Ação, ação e ação!
Délio Pinheiro e Flávio Pimenta


segunda-feira, 20 de julho de 2015

Comunicação e alguns ruídos parte 1

Um dia desses dei-me conta que minha história na comunicação já computa mais de vinte anos. Comecei como locutor na rádio Independente FM de Porteirinha em 1994, aos quinze anos de idade. Desde então passei por outras duas emissoras de Montes Claros, a 98FM e a Itatiaia. Há cinco anos, aproximadamente, deixei o rádio e me embrenhei na TV. Atualmente sou repórter e apresentador de telejornal na afiliada da Globo no norte de Minas, a InterTV Grande Minas. Se tivesse percebido antes essa efeméride pessoal, provavelmente teria reunido os amigos mais próximos e os familiares para uma pequena confraternização pelas duas décadas dedicadas a comunicação. Mas, para ser mais justo, a tal comemoração deveria ser uma festa imensa, que desse conta de reunir todas as pessoas que já passaram por minha vida nestes mais de vinte anos: ouvintes, amigos, colegas, artistas, família, telespectadores...

Quem sabe daqui quatro anos eu não pense em algo neste sentido. Tomara que as condições do país até lá fiquem mais favoráveis. Mas de toda forma não pretendo deixar passar em branco a possibilidade de deixar registrado aqui algumas histórias curiosas que aconteceram comigo, no rádio e na TV, por ocasião desta data redonda. São relatos engraçados, pitorescos, emocionantes, como é a própria dinâmica da comunicação de massa, quando sempre feita ao vivo, campo fértil para acontecimento de boas histórias. E no fim de cada pequena crônica vou publicar também algumas gafes do rádio do norte de Minas. A compilação dessas histórias se deu na conclusão do curso de Jornalismo, quando eu, minha então colega e hoje esposa Camila e meu parceiro e irmão Samuel Nunes, fizemos o trabalho de conclusão de curso com essa temática.

Pretendo utilizar nomes fictícios em alguns casos para não expor quem quer que seja a constrangimentos. Eu, particularmente, não me importo de contar os fatos curiosos que aconteceram comigo, pois os vejo como aprendizado. Então vamos aos fatos. 

Por volta de 1999 eu apresentava na rádio 98FM um programa com uma audiência enorme. O “Pagodão da 98”. Herdei a atração depois da saída do excelente radialista Luiz Montes, que deixara a emissora. O programa estava indo bem até que uma senhora ligou e pediu que eu mandasse uma música para o filho dela, que se chamava Donald. Anotei o pedido e entrei no ar com alegria e despojamento, marcas do programa. Só que fui um tanto infeliz na maneira como falei: “Agora vamos ouvir Zeca Pagodinho aqui no programa. E a Telma oferece para o filho dela, o Donald”. Até aí tudo bem. O problema é que o diabo mora nos detalhes. Complementei o anúncio dizendo que até mesmo na Disneylândia estavam ouvindo o programa. “Olha só, o pato Donald também está escuta. Aproveito e mando também para o Pateta, o Mickey, a Clarabela... Todos aí em Patópolis...”. Bastou eu fechar o microfone para o telefone tocar novamente. Era a mãe. O que você acha que ela disse. A primeira opção é “Que legal, adorei a presença de espírito”. Ou a segunda opção: “Eu posso falar com o irresponsável do locutor?”. 

Certamente a resposta correta foi a última. Ela emendou, furiosa: “Para seu governo, existe um ator chamado Donald Suterland e não é só porque o nome dele é Donald que precisa ser o pato Donald. Ela disse ainda que o filho sofria com a gozação dos colegas na escola. Eram tempos pré-bullying, mas mesmo a despeito da inexistência do termo o fato, esse tipo de babaquice já acontecia. E pior, o menino fazia análise para tentar superar esse bloqueio. “E você, deliberadamente, o chamou de Pato Donald para milhares de pessoas”. Ela respirou e finalizou: “Vou te processar!”.

O processo nunca veio. Mas isso me serviu como um tremendo aprendizado. Depois desse dia, e para todo o sempre, vou lembrar que ela se esqueceu de mencionar o Donald Trump.

Historinhas do rádio:

# O locutor se vangloriava de seu pique animado no ar e fazia disso uma das características de seu trabalho. Para ele rádio tinha que ser empolgante. Depois de dizer a hora, o radialista entrou no ar com todo o pique: “E aí galera, tá no ar o nosso programa, mas para começarmos com todo o gás tem a contagem regressiva: 1, 2, 3”.

# Em Porteirinha e em Espinosa tem duas rádios homônimas. Ambas se chamam Educadora e trazem muitas características em comum como a prestação de serviço e o apelo popular. Um comunicador trabalhava na cidade de Espinosa e sempre começava seus programas da mesma forma: “Estou chegando aqui na Educadora, em Espinosa 10 horas”. Era este o sinal que avisava aos ouvintes que a atração entrara no ar. Quis o destino que o locutor mudasse de rádio e de cidade. Ele foi trabalhar na Educadora de Porteirinha onde pretendia reproduzir o sucesso que obtivera em Espinosa. Já no primeiro dia ele começou do mesmo jeito o programa: “Estou chegando aqui na Educadora, em Espinosa 10 horas”- o locutor vacilou por um instante e arrematou: “E em Porteirinha também...”.

# O locutor era fã incondicional dos Beatles e repetiu essa gafe durante grande parte de sua carreira. Sempre que era possível programar um flashback na programação ele dava um jeito de colocar uma música do famoso quarteto de Liverpool e sempre caprichava no anúncio: “E agora você confere mais uma música da melhor banda de todos os tempos. Com vocês os The Beatles...”.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Não se pode com elas

- Não se pode com elas, Otávio - Dirceu repetia uma das frases de que mais gostava. Havia muito de exibicionismo em sua preparação para sair na badalada noite da capital mineira. O amigo o acompanhava com olhos de tédio e inveja. Talvez um pouco mais deste último.
- Não se pode com elas, Otávio - repetia enquanto fazia o nó na gravata.
Desde o grande prêmio, Dirceu acrescentara aquele detalhe a sua vestimenta, o que causava um muxoxo em Otávio.
- Pra quê isso Dirceu?- perguntava o amigo.
- Eu preciso estar bem para elas, por que você sabe...
- Sei sim, com elas não se pode.

E os dois amigos saíam para aproveitar os prazeres que a repentina fortuna de Dirceu lhes trouxera. Otávio também aproveitava do prêmio de loteria que o amigo ganhara, mas havia um sentimento amargo em meio às benesses e belas companhias que o dinheiro trazia.
O amigo endinheirado era sempre o centro das atenções. A verdade é que os dois poderiam ser tomados por ricos, mas apenas Dirceu de fato era, e isso estava na cara de contentamento e nos gestos estrepitosos do rapaz.

O pior, para Otávio, era aquele maldito segredo que ele guardava e que poderia pôr fim à amizade cultivada desde a infância. Mas o que ele mais temia, embora tentasse repelir esse sentimento, é que a revelação poderia pôr fim à possibilidade de aproveitar a dinheirama que o amigo torrava dionisiacamente pelas ruas da capital. Dinheiro que o fazia frequentar os lugares da moda e gozar da companhia de lindas mulheres. As mesmas que o ignoravam, é verdade, nos tempos duríssimos que os dois viveram há menos de um ano.
O segredo não poderia ser revelado em hipótese alguma, pensava Otávio. Mas e quanto àquele sorriso deslumbrado do amigo? Como cercear a inveja que o comia feito um câncer maldito?

Otávio sempre protegeu Dirceu. A vida toda foi assim, mesmo quando moravam em Inimutaba.
Os dois eram colegas desde o pré-escolar. Otávio diversas vezes entrou em brigas para acudir o amigo, que era franzino e sempre tirava notas baixas. O contrário de Otávio, que sempre tirava nota dez e muitas vezes era apontado como exemplo de bom aluno em todo o grupo escolar.
Os pais dos garotos trabalhavam na fábrica de tecidos “Cedro e Cachoeira” e eles tiveram uma infância farta, auxiliados pelos lucros da empresa, que empregava mais da metade dos pais de família da pequena cidade nascida em seus arredores.

Os dois foram crescendo sob os olhares do povo da pequena cidade, que dizia: “Vejam o Dirceu, parece que nunca vai refazer”. “Ele é da mesma idade do Otávio, que já é um rapaz”. “Esse filho de Seu Idalécio parece um ratinho de tão mirrado”. “Já esse Otávio vai longe”.
Os dois eram inseparáveis. Mesmo quando começaram a paquerar as moças da cidadezinha, Otávio dava um jeito de que a donzela que estava interessada nele arranjasse uma prima feia ou mesmo a empregada da casa para ficar com o Dirceu. E ainda dizia que a garota do amigo era mais interessante que a dele, que era bonitinha, mas que não tinha bunda ou que era bonita, mas que era tapada. E o amigo quase sempre concordava. “Vamos ver se elas querem trocar da próxima vez”, mas nunca trocavam.

Quando os dois rapazes fizeram dezoito anos, a fábrica despediu o pai de Otávio e a mãe de Dirceu, e informaram que haveria mais cortes nas próximas semanas. Era o início da decadência da empresa, que vivia, naquele tempo, às voltas com dívidas severas.
Os dois amigos estavam se formando no segundo grau e partiu de Otávio o desejo de se mudarem para Belo Horizonte, a fim de continuarem os estudos. Otávio sempre quis ser engenheiro e tanto falou nisso na infância que acabou convencendo Dirceu, que agora tinha também aquela vontade já enraizada. Até parecia que sempre quisera fazer engenharia.

Coube a Otávio conversar com os pais de Dirceu, para que eles deixassem o filho partir. Os dois foram para Belo Horizonte assim que se formaram no segundo grau.
Eles alugaram um quarto em uma pensão próxima à rodoviária. A localização não poderia ser pior, já que a ideia de voltar para casa ante um obstáculo qualquer que os dois enfrentavam na capital sempre lhes parecia palpável, e estava diante de seus olhos. A efígie do terminal iluminado foi um desafio para os dois, que chegaram a passar fome nos primeiros meses em Belo Horizonte.

Era comum os dois, deitados no catre duro da pensão, ficarem listando as delícias que deveria haver em suas casas naquele momento. “Lá em casa tem aquele doce de requeijão em bolinhas”, dizia Dirceu. “Mãe com certeza fez farofa de andu hoje na janta. Pai sempre trás quando vai a Diamantina, e hoje é dia dele ir lá”, suspirava Otávio. E os dois dormiam encolhidos para se protegerem do frio, enquanto seus estômagos faziam um concerto desafinado na madrugada fria da Curitiba.
Eles frequentavam um pré-vestibular de quinta categoria pela manhã. O único que era possível pagar com o dinheiro que as famílias mandavam todo mês por intermédio de um vendedor de doces conhecido do pai de Otávio, e que fazia a linha do norte de Minas todos os meses e que passava em Inimutaba sempre que ia a Curvelo fazer entregas.

Otávio estava decidido a arrumar um emprego na parte da tarde para poder pagar um cursinho melhor para ambos. E tanto se remexeu que acabou convencendo Dirceu de que esta era a melhor coisa a se fazer naquele momento, pois o dinheiro mal dava para pagar a pensão.
Depois do cursinho, Otávio saía para procurar emprego, mas nem sempre Dirceu o acompanhava. Os dois tinham somente uma refeição na pensão e Dirceu gostava de ser o primeiro na fila do self service. A cozinheira do estabelecimento, que já se afeiçoara com Otávio, sempre guardava o almoço dele e quase sempre o rapaz voltava depois das três, sem o emprego que saíra para procurar.

Dirceu ia às vezes com Otávio, mas sempre queria voltar logo. Chegava até a inventar algum mal estar para voltar para a pensão. Em algumas ocasiões Otávio se resignava e voltava com o amigo.
Como era de se esperar, a persistência do rapaz foi premiada e Otávio arrumou mesmo um emprego e Dirceu passou a depender mais ainda do amigo, que agora sempre trazia pão e mortadela quando voltava do trabalho que arranjara numa lanchonete lá mesmo na região central, mas um pouco distante da pensão.
Otávio havia feito as contas e o salário não daria para pagar um bom cursinho para os dois e então ele se contentou em não deixar faltar nada “de comer” naquele quartinho acanhado. Além disso, uma das primeiras providências que tomou foi comprar colchões melhores.

No próximo ordenado ele pretendia comprar uma cama nova para ele em algum comércio de móveis usados e, se possível, mudar para um quarto um pouco maior lá mesmo na pensão. Comprar uma televisão também passou a ser um objetivo. Ele já estava cansado de ouvir a Inconfidência no velho radinho que trouxera de casa.
Numa certa madrugada, Otávio acordou com o barulho que Dirceu fez ao se sentar na cama.
- Que mechilenga é essa aí?- disse Otávio, com a boca sebosa de quem está há horas dormindo.
- Eu estava sonhando, e perdi o sono - Dirceu tateava com os pés o assoalho frio da pensão em busca de seu chinelo.
- Sonhando com o quê?
- Que eu havia ganhado na loteria, veja só... - Dirceu ria com a lembrança do sonho que ainda tremulava em algum canto de sua memória.
- Eu estou quase lembrando os números, deixe me ver, acho que era 33 e... e... não me lembro.
- Vai dormir que ainda temos mais duas horas de sono. De repente você sonha com os outros cinco números - Otávio riu secretamente, deu alguns socos no travesseiro para que ficasse mais macio e pegou no sono rapidamente. Dirceu, por sua vez, tomou água e demorou a pegar no sono.

Pela manhã, Otávio perguntou se Dirceu havia sonhado novamente com os números da sena e o amigo disse que não. Após revezarem o espelho trincado do lavabo do quartinho, onde fizeram suas abluções, os dois saíram para o café da manhã e logo estavam no cursinho, que ficava confinado em meio a várias salas de escritórios num prédio antigo. Desde esse dia os sonhos de Dirceu passaram a ser frequentes, mas sempre havia o detalhe dele nunca se lembrar dos números da sena quando acordava.
- Esses malditos números não me veem à cabeça quando acordo. E os sonhos têm se tornado cada vez mais reais. Eu chego a sentir o cheiro do dinheiro - dizia Dirceu, diante do olhar de censura de Otávio.
- Você devia arrumar um emprego, isso sim, e parar de sonhar com essas bobagens.

Dirceu sentiu profundamente a crítica do amigo e não tocou mais no assunto. Mas Otávio ficou espantado quando viu que Dirceu colocara uma caderneta de anotações e um lápis sobre a cadeira velha que servia de criado mudo. Com certeza pretendia anotar os números assim que acordasse e pudesse se lembrar deles. Mas, desta vez, Otávio não criticou o amigo e ignorou mais uma vez aquela bobagem.
Depois de uma semana, Otávio acordou antes que Dirceu e resolveu fazer uma brincadeira. Escreveu seis números que lhe vieram à cabeça no bloco de notas do amigo e tornou fechar os olhos esperando a reação do amigo quando acordasse e visse os números lá. Com certeza dariam boas gargalhadas. Quando Otávio acordou pela segunda vez, já viu Otávio de pé e pronto para sair.

- Que foi?- disse Otávio
- Só vou pegar um negócio ali e já volto.
Otávio olhou para o despertador e percebeu que ainda faltava meia hora para ele apitar. Cochilou um instante, mas se assustou repentinamente com a lembrança dos números que havia colocado na caderneta do amigo. Ele olhou a cadeira e lá só estava o bloco. A página havia sido arrancada.
- Que bobão esse Dirceu. Será que ele acreditou?
Otávio foi para o refeitório onde esperava encontrar o amigo, mas ele não estava lá. O rapaz chegou a perder o primeiro horário no cursinho esperando, mas nada. E foi assim durante todo o dia. Dirceu desapareceu.
Otávio já estava pensando em ligar para os pais do rapaz para informá-los de seu desaparecimento, quando o amigo chegou berrando na pensão que havia sido sorteado na sena acumulada.

A lembrança deste dia sempre causava calafrios em Otávio. Contemplar a felicidade de quem acabara de ganhar mais de vinte milhões na loteria é uma experiência única, em que se aglutinam sensações de inveja e de excitação em um turbilhão de risos e de abraços entusiasmados.
- Você conferiu os números?- perguntou Otávio, totalmente atônito.
- Claro, umas trezentas vezes - berrava Dirceu em meio à pequena multidão que se formara no refeitório da pensão.
- Eu já até depositei o dinheiro. Assim que foram sorteados os números eu conferi e corri para o banco. Eles abriram mesmo fora do expediente - Dirceu mal conseguia falar.

Alguém sugeriu que pegassem água para o rapaz e muitos disputaram o privilégio de entregar o copo para Dirceu, numa cena que dava a Otávio a certeza indubitável de que sua vida jamais seria a mesma depois daquele dia, depois que seu amigo de infância se tornara um milionário.
- Eu te falei que estava sonhando com os números - gritava. - Foi pá pum, quando acordei os números estavam lá na caderneta, como num passe de mágica.
Otávio até ameaçou dizer o que fizera, mas naquele ambiente soaria como oportunismo, como o demonstrado pelos viajantes que iriam pernoitar na pensão e que cobriam seu amigo com tapinhas nas costas.

Então Otávio guardou para si o segredo. E com o tempo percebeu que seria mesmo impossível contar a verdade.
Lá pelo oitavo chope da noite, Dirceu já estava acompanhado de uma loira lindíssima, enquanto Otávio estava predestinado a ficar com a amiga dela, uma veterinária sem nenhum encanto. A loira fez um comentário no ouvido de Dirceu, prometendo-lhe outro tipo de diversão. Ele virou-se para o amigo e disse:
- Com elas não se pode, Otávio.
Terra de Dirceu e Otávio


Dicas culturais para ganharmos na loteria da vida:

Filme: "Nove rainhas", filme argentino imperdível, e cuja história se passa em meio a loterias e outros golpes bem urdidos. 

Álbum: O disco novo da Gal Costa, "Estratosférica". Coisa fina. 

Livro: Estou lendo "O mundo sem nós", de Alan Weisman

segunda-feira, 13 de julho de 2015

O arrepio do rio


Entre os dias nove e onze de julho Matias Cardoso recebeu uma caravana de intrépidos forasteiros, gente que mesmo a despeito de ter dezenas e dezenas de décadas nas costas ainda conserva a alma de menino, feito um colibri. Gente que tem disposição para reinventar a mesma guerra, quando tantas lutas já foram perdidas nas barrancas do Velho Chico. Homens e mulheres atentos aos clarinetes que anunciam uma nova batalha. E para mais esta luta que se apresenta encanecida não faltaram voluntários.
Um, com seus longos cabelos brancos, e que tem o nome gravado na pedra e se chama tumulto, veio de Alagoas. Outro, guerrilheiro durante o período das trevas, hoje ilumina o mundo ao seu redor com a candura de um guru e o exímio raciocínio de um estrategista forjado em lutas. Outro é meio homem e meio caboclo d´água, veio das Três Marias, e mistura no peito retinto a sabedoria de um doutor e a simplicidade de um pescador. Outro parece carregar nos ombros todas as demandas do mundo e ainda assim consegue cumpri-las, uma por uma, religiosamente, e ainda conserva inabalável a fé em Nossa Senhora do Carmo. Já outro é o professor mais afeito a ir a campo em detrimento dos ambientes protocolares que existe. Para ele o pincel e o giz deveriam ser transmutados em flechas de guerreiro e guardados nas matulas dos sertanejos. Tem também o jornalista atento e paciente, que se descobriu fotógrafo talentoso e se pegou ambientalista de mão cheia e vive de surpresa em surpresa, pois todas o divertem. E tem, por último, aquele que gentilmente ciceroneou a todos, sempre com zelo e acuidade. Dizem até que ele remoçou bem uns trinta anos nos dias laboriosos passados na antiga Morrinhos, bem juntinho do Velho Chico.

Igreja recebe a exposição Vidas Áridas



De um jeito ou de outro eu falei de algumas pessoas que participaram do encontro, bem aventurados que vieram ao socorro do Chico, sem ser necessário citá-los nominalmente. Isso vale também para nosso amigo necessitado. Não é necessário se referir a ele com o pomposo nome de rio São Francisco. Basta chamá-lo de Velho Chico, pois é o único rio do país que tem apelido, tal é proximidade de sua gente com seus dilemas e ocasos.
E como os dias foram proveitosos e, de certa forma, curtos, para tanta contribuição espontânea, quase sempre essencial. Assim foram os trabalhos do grupo, uma espécie de Clube de Roma como no dizer do alagoano Jackson, que ousou pensar fora da caixa da embromação que grassa neste país. Se outrora existiu um Clube de Roma, hoje existe o do rumo, para apontar o caminho seguro a seguir, ou do remo, para lembrar que os peixes estão morrendo confinados nas chamadas lagoas marginais, mas que também podem ser chamadas popularmente de maternidades, ou berçários. Ou clube do ramo, se preferir, pois aqui tem gente qualificada à beça. Ou talvez até da rima, pois até veleidades artísticas surgem nesta plêiade celestial, que se encarregou da fecunda “Carta de Matias Cardoso”, uma encíclica feita pelos devotos de São Francisco, gente que não dispensa uma cachacinha de Salinas e nem o doce de leite vindo de Barbacena.
Sinto-me imensamente feliz em participar deste grupo, que para além de Matias Cardoso, se encontra diariamente numa esquina virtual de uma rede social para um longo bate papo, com considerações pertinentes e muita provocação de ideias, como deveriam ser todos os diálogos que se pretendem úteis. Por isso ver todas essas pessoas desconectadas, descalças de fato, no banco de areia do rio ou despidas, no sentido metafórico, de confortos, para se dedicarem a dias de trabalho e muito calor, é algo que me motiva enormemente.

Grupo de trabalho
As decisões do grupo serão divulgadas em breve, e posteriormente encaminhadas às autoridades que se pretendem competentes para dar ouvidos a esse clamor do rio. Mas para haver uma mobilização verdadeira é preciso que cada cidadão se junte a este esforço, que não carrega coloração partidária e sim ideológica. Pensando bem, há uma agremiação partidária sim: O partido do rio São Francisco.
O projeto Vidas Áridas surgiu há pouco menos de quatro anos e neste tempo se transformou numa importante referência em matéria de meio ambiente na região norte do estado de Minas. O projeto participa de importantes discussões e ações e um deles é, justamente, a defesa do Rio São Francisco, que precisa urgentemente passar por uma verdadeira revitalização. Acreditamos que neste momento, quando há um enorme descrédito em relação aos governantes, só mesmo uma iniciativa provinda da própria sociedade, e que tem à frente jornalistas, pescadores, ambientalistas, professores, acadêmicos, entre outros, é que pode despertar as mentes e os corações para um assunto tão vital. E temos conseguido muitos avanços. Um deles foi nos juntarmos com o projeto Manuelzão, que desempenha importante trabalho no rio das Velhas, um dos principais afluentes do Velho Chico, e que agora, a exemplo do rio, passa a descarregar seus conhecimentos e esforços nas águas calmas e turvas do rio da Integração Nacional, ombreado com o Vidas Áridas.

Geraldo Humberto, do Vidas Áridas, e Apolo Heringer, do Projeto Manuelzão

Outros parceiros estão conosco, como a OVIVE, a Associação dos Municípios da Área Mineira da SUDENE, além da prefeitura de Matias Cardoso, que poderá ser um laboratório para o resto da bacia, quiçá para o mundo.
Nos dias em que ficamos em Matias, paralelamente aos encontros fechados do grupo, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, construída em 1694, abrigou a exposição de fotografias “Salvem-me para que eu possa salvar vocês!”. Centenas de pessoas a visitaram e viveram a mesma emoção que tivemos quando singramos o Velho Chico no ano passado, de Três Marias a Malhada, na Bahia. Não poderia existir um lugar mais simbólico do que esse. Em outro momento os membros deste grupo se reuniram com a comunidade em um ginásio poliesportivo, e de novo foi exibido o documentário que retrata esta experiência de vida. O propósito de envolver a sociedade e promover educação ambiental foi alcançado.
Mas ainda teve mais. Um grupo menor seguiu até a Lagoa Comprida, onde foi observada a situação dramática que os peixes vivem, impedidos de voltar para o rio, porque o Velho Chico não consegue ter cheias para alcançar a lagoa e esparramar milhares e milhares de surubins, e outras espécies, em suas águas. Foi triste verificar que não há fiscalização suficiente e que no ambiente que deveria ser protegido do Parque Estadual da Mata Seca, são criados bovinos, há pesca ilegal e existe uma quantidade revoltante de lixo. Na prática qualquer um pode entrar lá. Situações que levaram às lágrimas o ambientalista José Gomes de Assis, que participa do grupo.
Nietsche dizia que era uma deformação do espírito, num dia luminoso, ficar em casa lendo um livro quando a Natureza estava lá fora, fresca e radiante. Levamos esta frase ao pé da letra e fomos para o encontro mais original, numa croca do rio, que é como os pescadores chamam as faixas de areia. Lá só não estava fresco e sim muito quente.  O sol estava a pino, mas ninguém ali parecia se importar.
E foi neste instante que algo fantástico aconteceu. Um fenômeno tão bonito quanto inexplicável. No fim das falas foi feita a oração do Pai Nosso e Jackson se emocionou ao liderar palavras de ordem para o grupo repetir em uníssono.
Assim que os homens se calaram, todos perceberam que o rio formou marolas onde antes só havia mansidão e dele partiu uma suave melodia provinda das águas turvas. Sincronicidade? Um sutil recado de que ele, o rio, estivera o tempo todo atento ao que era dito? Neste instante lembrei-me daquele trecho luminoso de um poema de Thiago de Mello: “Quando a verdade for flama nos olhos da multidão, o que em nós hoje é palavra no povo vai ser ação!”.
O rio se arrepiou? Inútil perguntar a quem quer que seja.
Só sei que todos ali se arrepiaram.

Onde se deu o arrepio