Um dia desses dei-me conta que
minha história na comunicação já computa mais de vinte anos. Comecei como
locutor na rádio Independente FM de Porteirinha em 1994, aos quinze anos de
idade. Desde então passei por outras duas emissoras de Montes Claros, a 98FM e
a Itatiaia. Há cinco anos, aproximadamente, deixei o rádio e me embrenhei na
TV. Atualmente sou repórter e apresentador de telejornal na afiliada da Globo
no norte de Minas, a InterTV Grande Minas. Se tivesse percebido antes essa
efeméride pessoal, provavelmente teria reunido os amigos mais próximos e os
familiares para uma pequena confraternização pelas duas décadas dedicadas a
comunicação. Mas, para ser mais justo, a tal comemoração deveria ser uma festa
imensa, que desse conta de reunir todas as pessoas que já passaram por minha
vida nestes mais de vinte anos: ouvintes, amigos, colegas, artistas, família,
telespectadores...
Quem sabe daqui quatro anos eu
não pense em algo neste sentido. Tomara que as condições do país até lá fiquem
mais favoráveis. Mas de toda forma não pretendo deixar passar em branco a
possibilidade de deixar registrado aqui algumas histórias curiosas que
aconteceram comigo, no rádio e na TV, por ocasião desta data redonda. São
relatos engraçados, pitorescos, emocionantes, como é a própria dinâmica da
comunicação de massa, quando sempre feita ao vivo, campo fértil para
acontecimento de boas histórias. E no fim de cada pequena crônica vou publicar
também algumas gafes do rádio do norte de Minas. A compilação dessas histórias
se deu na conclusão do curso de Jornalismo, quando eu, minha então colega e
hoje esposa Camila e meu parceiro e irmão Samuel Nunes, fizemos o trabalho de
conclusão de curso com essa temática.
Pretendo utilizar nomes fictícios
em alguns casos para não expor quem quer que seja a constrangimentos. Eu,
particularmente, não me importo de contar os fatos curiosos que aconteceram
comigo, pois os vejo como aprendizado. Então vamos aos fatos.
Por volta de 1999 eu apresentava
na rádio 98FM um programa com uma audiência enorme. O “Pagodão da 98”. Herdei a
atração depois da saída do excelente radialista Luiz Montes, que deixara a
emissora. O programa estava indo bem até que uma senhora ligou e pediu que eu
mandasse uma música para o filho dela, que se chamava Donald. Anotei o pedido e
entrei no ar com alegria e despojamento, marcas do programa. Só que fui um
tanto infeliz na maneira como falei: “Agora vamos ouvir Zeca Pagodinho aqui no
programa. E a Telma oferece para o filho dela, o Donald”. Até aí tudo bem. O
problema é que o diabo mora nos detalhes. Complementei o anúncio dizendo que
até mesmo na Disneylândia estavam ouvindo o programa. “Olha só, o pato Donald
também está escuta. Aproveito e mando também para o Pateta, o Mickey, a
Clarabela... Todos aí em Patópolis...”. Bastou eu fechar o microfone para o
telefone tocar novamente. Era a mãe. O que você acha que ela disse. A primeira
opção é “Que legal, adorei a presença de espírito”. Ou a segunda opção: “Eu
posso falar com o irresponsável do locutor?”.
Certamente a
resposta correta foi a última. Ela emendou, furiosa: “Para seu governo, existe
um ator chamado Donald Suterland e não é só porque o nome dele é Donald que
precisa ser o pato Donald. Ela disse ainda que o filho sofria com a gozação dos
colegas na escola. Eram tempos pré-bullying, mas mesmo a despeito da inexistência
do termo o fato, esse tipo de babaquice já acontecia. E pior, o menino fazia
análise para tentar superar esse bloqueio. “E você, deliberadamente, o chamou
de Pato Donald para milhares de pessoas”. Ela respirou e finalizou: “Vou te
processar!”.
O processo nunca veio. Mas isso
me serviu como um tremendo aprendizado. Depois desse dia, e para todo o sempre,
vou lembrar que ela se esqueceu de mencionar o Donald Trump.
Historinhas do rádio:
# O locutor se vangloriava de seu
pique animado no ar e fazia disso uma das características de seu trabalho. Para
ele rádio tinha que ser empolgante. Depois de dizer a hora, o radialista entrou
no ar com todo o pique: “E aí galera, tá no ar o nosso programa, mas para
começarmos com todo o gás tem a contagem regressiva: 1, 2, 3”.
# Em Porteirinha e em Espinosa
tem duas rádios homônimas. Ambas se chamam Educadora e trazem muitas
características em comum como a prestação de serviço e o apelo popular. Um
comunicador trabalhava na cidade de Espinosa e sempre começava seus programas
da mesma forma: “Estou chegando aqui na Educadora, em Espinosa 10 horas”. Era
este o sinal que avisava aos ouvintes que a atração entrara no ar. Quis o
destino que o locutor mudasse de rádio e de cidade. Ele foi trabalhar na
Educadora de Porteirinha onde pretendia reproduzir o sucesso que obtivera em
Espinosa. Já no primeiro dia ele começou do mesmo jeito o programa: “Estou
chegando aqui na Educadora, em Espinosa 10 horas”- o locutor vacilou por um
instante e arrematou: “E em Porteirinha também...”.
# O locutor era fã incondicional
dos Beatles e repetiu essa gafe durante grande parte de sua carreira. Sempre
que era possível programar um flashback na programação ele dava um jeito de
colocar uma música do famoso quarteto de Liverpool e sempre caprichava no
anúncio: “E agora você confere mais uma música da melhor banda de todos os
tempos. Com vocês os The Beatles...”.
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