quinta-feira, 26 de março de 2015

Agonia e morte


O projeto Vidas Áridas, que é comandado por mim e por meu amigo Geraldo Humberto, acaba de ser citado em uma reportagem especial da revista Viver Minas sobre a situação hídrica do Norte de Minas. Eis a reportagem escrita pela colega jornalista Ana Elizabeth Diniz:








segunda-feira, 23 de março de 2015

Nascentes vivas em um futuro melhor

Havia um motivo nobre: marcar o Dia Mundial da Água com uma ação efetiva para preservar este bem tão precioso. Havia gente disposta a perder parte do domingo com uma atividade coletiva: os familiares do senhor João Alves, os voluntários levados pelo Vidas Áridas e parceiros da atividade.
Padre Tarden, da Casa de Nazaré e Elenir




E havia algo mais, difícil de ser descrito: a esperança de tornar a pequena nascente do Córrego Gameleira a primeira a ser cercada pelo projeto “Nascente Viva”, que surge com o ambicioso intuito de proteger todos os minadouros de água do município de Montes Claros. 
A chegada a Gameleira


O estio caracterizou o domingo na comunidade, próxima a Lagoinha, às margens da BR-135. Muitos automóveis passam no local diariamente e a maioria dos ocupantes nem imagina que ali, há cerca de trezentos metros, surge uma das dez nascentes que fazem parte da Bacia do rio Vieira. No dia anterior choveu bastante por lá e havia o temor que o dia amanhecesse chovendo, o que dificultaria os trabalhos. Mas não foi o que aconteceu. Desta forma as ações foram feitas sem grandes dificuldades.
Antes de seguir para a nascente, todos se reuniram na casa de Elenir, filha do senhor João Alves, antigo proprietário da terra, falecido há menos de dois anos. Doze filhos fazem parte da imensa prole deixada por ele. E foi essa gente festeira e prestativa que nos recebeu com um farto café da manhã.
Sem perder tempo, após uma rápida explanação do projeto, alguns seguiram diretamente até a nascente e outros foram até o retiro de orações Casa de Nazaré, que faz divisa com as terras da família Alves. No meio, no fundo de um pequeno vale, se localiza a nascente, que não pertence a ninguém especificamente e, ao mesmo tempo, é de todos, já que a água é um bem comum.
Geraldo Humberto dando duro
“Nosso pai sempre nos ensinou que não devíamos retirar nem mesmo um cabo de enxada desta nascente. Ele sempre protegeu, e sei que ficaria orgulhoso do que estamos fazendo aqui”, Elenir mal conseguia segurar a emoção.
Uma equipe da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, liderada por Fabiano, que se auto-intitula um “militante do meio ambiente”, se incumbiu do trabalho pesado, juntamente com vários irmãos de Elenir, que se embrenharam na mata para dar sua contribuição na abertura de covas para receber os mourões. Os postes e as mudas foram transportados até o local pelos voluntários da OVIVE, grande parceira do Vidas Áridas, e também pelos alunos de Engenharia Ambiental das Faculdades Santo Agostinho, orientados pela professora Mônica Durães, que pesquisou a localização de cada uma das nascentes do Vieira.
“Concretizar um projeto como este, que foi desenvolvida por mim e pelos meus alunos, é um sonho. Agora podemos mais, até mesmo sonhar com a transformação da nascente do Rio Vieira em uma área de proteção de ambiental”, registrou a educadora.
Além do cercamento, que foi iniciado e que deve ser concluído nos próximos dias, foram plantadas cerca de quarenta mudas de árvores típicas da região, e também espécies frutíferas. As pessoas que moram no entorno receberam o primeiro treinamento para o combate a incêndios. As labaredas têm atingido com frequência o local, e a criação de uma brigada pode ajudar a minimizar os impactos. A ONG OVIVE vai fazer a doação de equipamentos anti-incêndio para a pequena, porem combativa “Brigada Alves”.
Mãos à obra
Como todas as ações feitas pelo Vidas Áridas, a população é convidada a participar, e isso inclui, obviamente, a classe política. Uma delas, a deputada federal Raquel Muniz, esteve presente. A congressista se comprometeu a dotar o projeto “Nascente Viva” com recursos oriundos de emenda parlamentar para que continue a cercar outras áreas como esta.
Outra informação relevante foi passada pelo representante da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, que nos assegurou que a compensação ambiental de empresas notificadas pela Prefeitura será na forma da adoção de outras três nascentes. Sinal que a rede de voluntários precisa ficar ainda mais forte ao longo deste ano.
 Eu fui ao local acompanhado de minha família, minha esposa e meus dois filhos. E lá vivemos momentos mágicos, de muita emoção. O Vidas Áridas, criado e gerido por mim e por meu amigo Geraldo Humberto, sempre teve um reconhecimento calcado em duas atividades, a conscientização e a mobilização.
Parceria
Conseguimos conscientizar através das palestras que fazemos gratuitamente em escolas públicas. E investimos na mobilização, quando conclamamos todos os políticos do norte de Minas, independentemente do partido, a abraçar o assunto “seca” como uma bandeira do povo norte mineiro, sem o viés ideológico que, muitas vezes, contamina as discussões e emperram as obras estruturantes, como o reinício das obras do reservatório de Berizal, no Alto Rio Pardo, que poderia saciar a sede de milhares de família e que hoje não passa de um símbolo falido de descaso. O que interessa, afinal, é que nosso povo não sofra tanto com este fenômeno cada vez mais severo. Além de conscientização e mobilização, podemos acrescentar também, doravante, a ação. Um gesto concreto em favor das próximas gerações, tão bem representadas pelas crianças que participaram do cercamento. Os numerosos netos do senhor João Alves, a bela neta ruivinha da deputada Raquel, os meus filhos e também a meiga Maria Eduarda, filha da professora Mônica que, com seu jeitinho despachado de lidar com a natureza, já se tornou nossa “mascote”.
Professora Mônica e sua filhinha

No instante em que realizávamos nossa ação na Gameleira, dentro da programação do “Dia Mundial da Água”, fui informado que a Igreja Católica organizou uma procissão até a nascente do Córrego do Cintra, afloramento de água engolido pelo progresso de Montes Claros. Ela conta que Padre Brígido, pároco de São Sebastião, quando indagado por um fiel se ele não tinha receio de que a caminhada pudesse ficar esvaziada, respondeu de um jeito espirituoso: “Só quero que participe da procissão aquelas pessoas que precisam de água, as demais não precisam ir”, o religioso resumiu o sentimento que nos move.

Um gesto que significa muito para a Natureza

quinta-feira, 12 de março de 2015

Quando o lead derrota a lide

Recentemente eu voltei com meu blog, só que numa estrutura mais condizente com os dias atuais. E sempre colocarei material novo. Mas também pretendo transferir conteúdos do antigo blog. Como neste caso. Atualmente a equipe de vôlei de Montes Claros está numa fase decisiva da Superliga, o playoff- tem pela frente o imbatível Cruzeiro. E há quase cinco anos a cidade estava vibrando com um feito ainda mais sensacional: a chegada à final da principal competição de vôlei do país. E eu acompanhei o jogo. É um relato interessante também de meus primeiros dias na InterTV:

Estávamos em minha casa em Serranópolis de Minas. Provavelmente era época de férias escolares. Uma certeza: éramos crianças elétricas, que brincavam de pique-esconde indiferentes à ameaça dos videogames, manifestada naqueles tempos nos jurássicos Ataris. Depois de correr pelas ruas do então distrito de Porteirinha, a voz imperiosa da mãe chamava pra dentro da casa. E na sala modesta outra vez brincávamos de adedonha, jogos de tabuleiro, em especial o onipresente ludo. Outra certeza: uma vez aboletados na sala ninguém deveria reparar na TV ligada, ainda mais que havia brinquedos espalhados pelo chão.

A atração exibida era um telejornal vespertino. Ou seria de manhã? A imprecisão do passar do tempo eclipsa os detalhes, mas não retira a força da frase proferida pelo garoto enquanto assistia a TV. Sim, pelo menos uma das crianças estava vidrada na imagem do apresentador engravatado. O homem era Sérgio Chapelin, e a criança era eu. “Um dia estarei na TV como esse moço aí”, eu disse.

Noutra ocasião, e essa de fato me recordo, brinquei com minha irmã Graziela de apresentar telejornal, improvisando uma caixa de papelão como se fosse um monitor. Eu me aboletei no objeto e dei as notícias, com voz impostada como faziam os apresentadores. Minha única telespectadora certamente gostou, embora talvez ela nem lembre disso.

O fato é que sempre sonhei em trabalhar com comunicação, mesmo sem saber o que um jornalista faz. E hoje, passados mais de trinta anos desde que vim ao mundo na maternidade de Porteirinha, posso dizer que alcancei este objetivo. Trabalho na InterTV, afiliada Globo em Montes Claros, cidade que me acolheu há quinze anos.

Uma carreira sólida no rádio da região precedeu minha ida para a TV. Trabalhei na Independente FM de Porteirinha e em duas das principais emissoras de Montes Claros: 98 e Itatiaia. Antes da InterTV, tive uma experiência na televisão, no programa “Revista Geraes”, da TV Geraes, e certamente foi um excelente laboratório, mas nada que se compare com o atual momento.

Hoje me aventuro neste veículo cheio de mistérios ao qual ingressei ciente de que nada sabia. E continuo não sabendo quase nada, passados mais de um mês de minha estréia. Esta aconteceu em um dia pouco recomendável para alguém que preza a verdade e faz dela o dínamo de seu ofício: primeiro de abril.

E como fui afortunado neste primeiro mês de trabalho. Tive a honra de trabalhar com excelentes repórteres cinegrafistas, companheiros inseparáveis na lida direta com as notícias. Desde o tranquilo Geraldo Humberto ao espevitado Messias Braga, passando por Robert, Xandão e Marcelo Pimenta. E todos eles acrescentaram muito ao meu trabalho, assim como os editores e produtores.

Neste primeiro mês deparei-me com todo tipo de matéria: acidentes prosaicos de trânsito, cobertura do esforçado Funorte no futebol, shows musicais, atividades ecológicas, falta de medicamentos e vacinas nos postos de saúde, animais soltos em bairros periféricos, mau cheiro advindo da Estação de Tratamento de Esgoto, denúncias de desmandos em cidades da região, visita ao presídio da cidade onde os presos não condenados irão votar nas próximas eleições, a morte de uma moça da Bahia possivelmente vítima de dengue hemorrágica.

Mas a principal pauta foi, sem dúvida, a campanha surpreendente do Montes Claros na Superliga de vôlei. Em função do vôlei aconteceram coisas incríveis para um repórter iniciante. Saíram matérias minhas no Bom Dia Minas e no Globo Esporte e também no canal SportTV, emissora por assinatura que pode ser sintonizada em todo Brasil. E o vôlei também me levou a São Paulo, para a primeira viagem interestadual que fiz, na cobertura da grande final.  Foi na cobertura do vôlei também que fiz meu primeiro “vivo”, situação em que o repórter entra ao vivo no telejornal via link. Na ocasião entrevistei o diretor do time, Vítor Oliveira.

No Ibirapuera

Certamente foram situações ricas, e todas elas com sua carga particular de complexidade. Mas teve uma situação específica que me mostrou o quanto o trabalho do jornalista pode ser dinâmico e desafiador. Eu e Messias Braga estávamos entrevistando os torcedores do Montes Claros na partida decisiva em casa contra o Brasil Vôlei, nova nomenclatura do Banespa, que fez história no voleibol nacional dos anos 1980. A partida foi uma batalha épica de cinco sets, mas eu e Messias só vimos o primeiro, pois fomos surpreendidos pelo telefonema da redação: “Parem tudo aí e sigam direto para o Delfino Magalhães. Aconteceu um duplo assassinato lá”.

Para a partida de vôlei foram escaladas duas equipes, e Cácio Xavier e Robert ficaram lá. Eu e Messias seguimos, feito corisco, para o populoso bairro. E lá chegamos pouco depois que os assassinos, em número desconhecido, invadiram uma casa e mataram dois jovens. O crime foi mais um tenebroso capítulo da disputa por pontos de distribuição de drogas em Montes Claros.

Eu e Messias, com autorização da polícia, entramos na cena do crime, e pudemos notar o quanto as drogas podem aniquilar a vida de alguém. Um dos mortos, de vinte anos, tinha uma folha corrida de pelo menos oito assassinatos nas costas, e o outro, um rapazote de dezoito anos, acabara de ganhar a maioridade há apenas três dias. A cena do crime, com drogas e dinheiro espalhados, dificilmente se dissipará de minha cabeça.

E foi lá que vi uma cena horripilante. O celular de uma das vítimas tocando e vibrando de maneira alucinada na poça de sangue que se formou sob o corpo cravejado de balas do jovem traficante.

Quem seria do outro lado da linha? Um playboy da classe média pedindo mais uma entrega de crack em sua casa do bairro Ibituruna ou São Luis?

Não. Na verdade o que piscava no visor era uma palavrinha pequena de três letras apenas. "Mãe".

O policial não atendeu a chamada. Ninguém atendeu. Enquanto o perito não chega nada pode ser tocado. Até esta noite eu nunca havia visto uma pedra de crack em minha vida, e logo vi umas seiscentas, segundo a PM.

Eu e Messias colhemos diversas sonoras com policiais e moradores da pacata rua escolhida para servir de depósito para as drogas de uma das duas facções do crime em Montes Claros. Foi justamente a outra facção que disparou mais de cinquenta tiros na chacina, que poderia ser ainda maior, já que havia pelo menos cinco pessoas na casa.

Dois fugiram e outro foi atingido e levado, acompanhado pela polícia, ao hospital. Eu e Messias ainda fomos para o hospital e só fechamos a matéria por volta da meia noite, quando ficamos sabendo que o Montes Claros havia vencido o Brasil Vôlei por três sets a dois e que estava na semifinal da Superliga, onde enfrentaria o poderoso Cruzeiro, de Betim. Se no ginásio a cidade se sentia vitoriosa, ali, relativamente perto, estávamos perdendo de goleada para a violência.

No dia seguinte a cobertura do vôlei foi brilhante, com a matéria de Cácio, mas a minha matéria sobre o crime também se fez presente mostrando que precisamos dar uma cortada definitiva na violência sob pena de perdemos essa luta no tie break. Por enquanto a minha impressão é que já perdemos os dois primeiros sets.

Essa foi a principal experiência do primeiro mês, juntamente com a viagem a São Paulo, onde fiz uma inspirada passagem no ônibus da torcida quando atravessávamos a divida de Minas e São Paulo na Serra da Mantiqueira. Passagem no linguajar jornalístico é quando o repórter surge no vídeo e seu nome aparece nos créditos.

A matéria foi, modéstia à parte, muito boa e reforçou a ideia que mesmo perdendo a final, o time, e a torcida, deveriam se orgulhar do feito. Chegar numa final de Superliga no primeiro ano de existência de clube é algo para se comemorar. E isso foi feito.

E a InterTV, que apostou no time desde o início, tem uma grande parcela de responsabilidade pelo fenômeno que o Montes Claros se tornou nas quadras e nos corações de milhares de pessoas no norte de Minas. Por isso os jogadores e a comissão técnica eram sempre tão atenciosos conosco. Para mim foi uma honra participar deste momento.

Nossa equipe em São Paulo, com a querida Leonídia

À guisa de justificativa para o título aparentemente maluco desta crônica, cabe-me esclarecê-lo: no linguajar jornalístico existe a palavra lead, que sintetiza nos famosos “O que”, “Quem”, “Quando”, “Como”, “Onde” e “Porque”, qualquer tipo de notícia. Basta respondê-las e teremos um texto conciso e preciso, puramente jornalístico.

No Direito temos a questão da lide, que é justamente qualquer situação em que as partes disputam o que quer que seja. É o embate, o choque de opiniões, o que justifica a existência de processos, julgamentos e sentenças.

Eu curso Direito, mas resolvi trancar minha matrícula neste quarto período, pois julguei que não daria conta de tanta responsabilidade. Vale registrar que também trabalho na assessoria de comunicação do CAA, além do já citado trabalho na InterTV. E Direito deve ser feito com esmero, pois se trata de um dos cursos mais difíceis que tem por aí. Por isso o título da crônica.

Agora o que quero é crescer cada vez mais no conhecimento de jornalismo televisivo e galgar os espaços para os quais eu for merecedor, ciente que tenho muito trabalho, e responsabilidade, pela frente. E que cada vez mais tenhamos notícias alvissareiras no esporte, e na vida em geral, e cada vez menos notícias policiais. É este o meu desejo, quixotesco é verdade, mas não devemos nunca perder a fé em nossos semelhantes.

Dicas culturais deste blogueiro de volta ao mundo digital:

Filme: O impressionante "Ela", de Spike Jonze. Certamente um dos filmes mais originais que já vi.

Álbum: Songs of innocence- U2. A banda irlandesa é sempre relevante.

Livro: Estou lendo "A volta", de Bruce e Andrea Leininger, por indicação de meu colega jornalista João Edwar. 

segunda-feira, 9 de março de 2015

Discurso de posse na Academia Montesclarense de Letras

Saúdo neste momento a presidente da Academia Montesclarense de Letras, Dona Yvonne Silveira, que se recupera de um problema de saúde, e por essa razão não está aqui nesta noite memorável. E como ela gostaria de estar aqui... Peçamos a Deus pela sua recuperação.

E cumprimento também todos os integrantes desta Mesa de Honra, meus confrades e confreiras.
Gostaria de saudar também todos os presentes. Minha família, meus amigos...
Boa noite a todos!

Hoje é uma noite para celebrarmos a vida, as letras, a amizade, mas não posso iniciar este texto sem deixar de mencionar que ano passado a humanidade ficou mais empobrecida. Tivemos perdas irreparáveis na Literatura. Despedimos-nos do poeta Manoel de Barros, que queria renovar o homem usando borboletas. É de sua lavra: “A maior riqueza do homem é a sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou, eu não aceito”. Outro que se encantou foi João Ubaldo Ribeiro, genial escritor baiano. E ainda teve a partida de Ariano Suassuna. Pois é, “não sei, só se que foi assim”. E assim ficamos mais banais. E como se não bastasse, ainda perdemos Gabriel Garcia Marquez.

Meu filho mais velho se chama Gabriel por causa dele. E também, é claro, pelo Anjo da Anunciação. E Gabbo anunciou ao mundo que aqui nos trópicos tem escritores merecedores de láureas como o Nobel de literatura. E ele foi Jornalista a vida toda. Escreveu certa vez que a “A ética deve acompanhar o jornalista como o zumbido acompanha o besouro”. Procuro seguir este ensinamento todos os dias na profissão que escolhi.


Com tio Chico Bodocó

E em 2014, ano que, por essas razões, foi longo demais, também perdemos dois grandes escritores da nossa região, o primeiro deles é o meu colega jornalista Luiz Carlos Peré, a quem dedico este momento.  E também Haroldo Lívio de Oliveira, que nasceu em 21 de setembro de 1938 em Brasília de Minas, filho de José Luiz de Oliveira e Dalva de Oliveira. É a cadeira dele, a de número 26, que agora passo, com muita honra, a ocupar. Em seus 76 anos de vida, Haroldo Lívio foi oficial de Registro de Imóveis da comarca de Porteirinha e, antes disso, também foi funcionário do Banco do Brasil. Cursou Direito na Universidade Estadual de Montes Claros, onde colou grau em 1971.

Trabalhou na imprensa, ou melhor, “militou na Imprensa”, como gostava de dizer a partir de 1956, tendo colaborado no O Jornal de Montes Claros, na revista Encontro e no Jornal de Notícias. Quando se comemorou a efeméride de um século da imprensa em Montes Claros ele foi um dos laureados com diploma de honra. Em vida publicou apenas um livro “Nelson Vianna, o personagem”, e deixou uma obra inédita: “Chico Dominguinho e outros montesclarenses”. Era membro efetivo tanto da Academia de Letras quanto do Instituto Histórico e Geográfico.

Haroldo Lívio era conhecido também pela notável memória. Era capaz de citar datas, acontecimentos e pessoas com espantosa facilidade. Ficam também para a posteridade o seu jeito de bom pai e exemplar marido.

Em 2007 vivemos uma feliz coincidência. À época eu trabalhava na assessoria de comunicação da Prefeitura de Montes Claros, na administração de Dr. Athos Avelino, e fui o Mestre de Cerimônias na entrega de medalhas de ouro pelos 150 anos de Montes Claros a 150 personalidades de nossa terra. Uma noite com a presença do então governador de Minas Gerais, Aécio Neves, e do presidente da república em exercício, José Alencar. Nesta noite eu anunciei o nome de Haroldo Lívio e o convidei para receber sua medalha.

O primeiro imortal a ocupar a cadeira 26 foi o escritor e político Arthur Jardim de Castro Gomes. Ele nasceu em Queluz de Minas, antigo nome de Conselheiro Lafaiete. Filho de José Henrique de Castro Gomes e de dona Celestina Jardim de Castro Gomes, fez os cursos primário e secundário em Belo Horizonte, onde também fez o curso superior, na Escola de Engenharia e Escola Superior de Agronomia e Veterinária. Conseguiu um feito político. Foi prefeito de dois municípios mineiros: Francisco Sá e de Corinto.


Com meu filho Felipe

Na vida literária ele escreveu e publicou o livro “Água Quente ou Montezuma”, no ano de 1987. O autor dizia que a obra retrata a áspera, e por vezes perigosa, saga do interior do país, as experiências e observações acumuladas nesse arquivo e painel que parece ser a mente humana. O acadêmico Arthur Jardim de Castro Gomes ainda escreveu, e não publicou, os livros: “Apenas um Curato”, “Rumos, Caminhos e Bandeiras”, “Auto da Inconfidência” e “Gente Campesina”.

Outro nome faz parte da história da cadeira de número 26: o do escritor e professor que viveu grande parte de sua vida em Grão Mogol, Polidoro dos Reis Figueiredo, que foi escolhido como patrono por seus relevantes trabalhos. Ele nasceu em São José de Bicas, na região metropolitana de Belo Horizonte no dia 27 de março de 1864 e faleceu em 2 de julho de 1949. Exímio professor de Português, foi diretor do Colégio Diocesano de Montes Claros e também lecionou no Colégio Dom Pedro I, no Rio de Janeiro. Uma parte da vida dele foi no Serro e outra em Diamantina.

Ele era avô do ex-prefeito de Grão Mogol por quatro vezes, Afrânio Augusto Figueiredo, e bisavô do atual prefeito, também na quarta administração, Jéferson Augusto Figueiredo.

Segundo as palavras do escritor grãomogolense Alberto Sena, Polidoro era “um homem escorreito, elegante no trajar, personalidade forte, um intelectual escrevinhador de versos”.

Nas primeiras núpcias, ele se casou com Bernardina, com quem teve 10 filhos. Viúvo casou-se com a irmã dela, Guilhermina, com quem teve mais sete filhos, entre os quais Augusto, pai de Afrânio Augusto Figueiredo, e avô do atual prefeito de Grão Mogol.

Infelizmente não há informações fartas acerca deste imortal, mas ele foi relevante também na capital do Estado, Belo Horizonte, pois o nome dele foi objeto de Lei exclusiva de 1954, que concedeu-lhe jazigo perpétuo no Cemitério do Bonfim, onde está sepultado.

De acordo com a pesquisa que fiz, Polidoro escrevia poemas, mas não há registro destes escritos, infelizmente. Mas dos feitos há comprovações. O escritor Nélson Viana fez uma vasta pesquisa para o livro "Efemérides Montesclarenses", que cobre o período de 1707 a 1962, revelando o que aconteceu de mais importante no cotidiano da cidade. No dia 2 de abril de 1928, segundo nos conta, foi realizada a cerimônia de instalação da Escola Norma Oficial de Montes Claros, que tinha como diretor Luiz Gonzaga Pereira da Fonseca. Estava presente no evento também o professor Polidoro dos Reis Figueiredo, então Inspetor Regional do Ensino.


A posse

Depois de discorrer sobre aqueles me precederam esclarece-se enfim o porquê de se referir aos acadêmicos como “imortais”. Todo mundo já deve ter feito esta pergunta. A imortalidade nada mais é do que isso: ser lembrado na Academia por toda a eternidade, uma vez que o assento 26, como todos os outros, assim como os diamantes de James Bond, são eternos.

Ao contrário de todos nós. Aliás, se houvesse imortalidade de fato esta seria muito chata. Deixemo-la no campo metafórico e tratemos de aproveitar cada dia de vida nesta dimensão.

Estou na faixa dos trinta anos.  Tenho colegas aqui na Academia que vivem plenamente os quarenta e poucos, ou os cinqüenta e tantos, os sessenta, e até mesmo os maravilhosos oitenta anos de Petrônio Braz e Wanderlino Arruda  e os fabulosos cem anos de Dona Ivonne, nossa presidente.

Tem uma observação maravilhosa do poeta Mário Quintana sobre a passagem do tempo. Ao ser perguntado sobre como se sentia quando entrara na casa dos sessenta anos, ele disse: “Não sinto nada. A linha dos sessenta, como a dos cinqüenta ou dos quarenta anos, é uma linha imaginária, como a do Equador. O navio não dá o mínimo solavanco quando a gente atravessa”.

Por isso vivamos cada instante, e este que vivo agora é um dos mais marcantes de minha vida tenham certeza disso.

Gostaria, por fim, de agradecer algumas pessoas que estão nesta solenidade. A minha família, que veio de Serranópolis de Minas, de Janaúba, de Belo Horizonte, obrigado a todos, em especial aos meus pais Almir e Fátima, minhas irmãs Leila e Grazi, meus primos, tios, cunhados, sobrinhos e afilhados. E dedico em especial a minha amada Vó Laurinda que, no mês que vem, atravessa a linha imaginária dos 90 anos e segue radiosa e inteligente como sempre foi.

Dedico também a minha sobrinha Isabela e aproveito para parabenizá-la pela aprovação no curso de Medicina. Espero ter conseguido inspirá-la de alguma forma nesta caminhada. Certamente ela, e também sua irmã Gabriela, me inspiram.


Com Wanderlino Arruda

Gostaria de cumprimentar e agradecer pela presença aos pais de minha esposa, Magela e Ivone.
Já éramos confrades do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, e agora somos também da Academia de Letras: meu padrinho e dileto amigo Itamaury Teles. Pessoa pela qual nutro admiração e respeito.

Meus queridos amigos da “Diretoria”, que bom que vieram. Obrigado por estarem aqui. Já foi dito certa vez que amigos são a família que temos a chance de escolher. E vocês já fazem parte de minha vida, e de minha família. Obrigado.

Meus colegas jornalistas. Agradeço ao meu amigo Cácio Xavier e a toda audiência da emissora em que trabalho, a InterTV Grande Minas, sobretudo do jornal que apresento ao lado de minha colega Maíra Botelho e também aos meus colegas da externa, da produção e da edição.

Agradeço ainda, e parabenizo, os acadêmicos que passam a fazer parte, junto comigo, desta Casa: Juvenal Caldeira e Jarbas Oliveira.

Gostaria de agradecer também a família Fundação Sara. Tenho orgulho de ser voluntário e, além disso, estou Conselheiro da entidade. Algo que me deixa muito orgulhoso. Fundação Sara que é liderada pela querida Marlene e pelo também serranopolitano Álvaro, o filho do saudoso seu Gaspar e de dona Ieda, queridos amigos de minha família.


Com Amelina Chaves e Cácio Xavier
Por fim, gostaria de agradecer profundamente a minha esposa Camila, por ser minha companheira, minha mulher e mãe dos meninos mais inteligentes e bonitos desta terra, os meus: Gabriel e Felipe.

Gostaria de agradecer a cada um e dizer:
“Da vida não peço tanto assim. Meus sonhos são banais. Liberdade é o que peço. Um pouco de amor, respeito e nada mais”.

Obrigado!



Dicas culturais para atingirmos a imortalidade da alma:

Filme: Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson. Fotografia perfeita, que já o torna imortal


Álbum: O disco "Policromo" da banda 5 a Seco


Livro: Estou imerso em "Humano, demasiado humano", de Nietzsche

O retorno do blog

Olá amigos, como vão?
Espero que ótimos.
É com muita honra que retomo os trabalhos do blog. Espaço sagrado onde posso compartilhar minhas produções como escritor, jornalista e cidadão.
O antigo blog dá lugar a este, bem mais moderninho.
Meu objetivo é colocar assuntos inéditos todas as semanas, bem como resgatar postagens do antigo blog, até que este novo espaço seja 100% original.
Conto com a sua leitura e com seus comentários.