Enfim deixamos para trás uma das mais terríveis semanas de
que me lembro.
Nos últimos dias, grande parte do Parque Estadual da Lapa
Grande em Montes Claros queimou. E a chuva, tão aguardada, acabou chegando um
tanto tarde para ajudar a debelar as chamas que assustaram e nos fizeram
chorar.
Tragédia ainda maior se abateu no rio Doce, onde os dejetos
da mineração empestearam um dos nossos mais importantes mananciais, levando-o a
uma situação que talvez seja resolvida em décadas ou, talvez, nunca volte a ser
o que era. No rastro da destruição da imundície da Samarco muitas vidas se
perderam.
E na última sexta, ironicamente dia 13, o mundo voltou a ser
sacudido pelo medo do terrorismo, numa tragédia ainda maior: o massacre de Paris.
Confesso que fiquei triste ao perceber que algumas pessoas,
ao postarem fotos com a bandeira da França, foram hostilizadas por outras que,
ao tentar comparar as tragédias, se viram no direito de julgar o sentimento
alheio.
E teve ainda os que colocaram bandeiras de Minas, após o
terrorismo que se abateu sobre Paris, como forma tardia de expressar seu
bairrismo, em detrimento a um dos fatos mais aterradores pelo qual passou a
humanidade, em todos os tempos. E, como sabemos, na “ágora” superficial da internet
parece prevalecer aquela máxima: Se concordo contigo, sou sábio. Se não
concordo, sou tolo. Sentimento que guarda semelhança com o próprio
fundamentalismo.
Comparar o incomparável não é nenhum pouco razoável. Ainda
mais que as tragédias de Mariana e Paris são absolutamente distintas.
Uma é fruto da imperícia e da negligência, erigida numa
somatização assustadora de fatores externos, que passam, inclusive, pela
anuência de órgãos que deveriam fiscalizar as tais barragens e não cumpriram
suas obrigações. Até o fato dos governos valorizarem excessivamente o lucro em
uma atividade que deixa tantos rastros de destruição como a mineração. Neste
caso, no entanto, não é possível afirmar que havia intenção em se cometer algo
assim, embora tudo corroborasse para isso.
Já a outra tragédia foi produzida deliberada e
propositalmente, justamente numa cidade que guarda tesouros inestimáveis da
história humana, berço do iluminismo e terra em que se primeiro ousou falar em
democracia, através da legítima expressão que “iluminou” as trevas do Velho
Mundo, e também do novo, onde estamos: Liberdade, igualdade, fraternidade.
Condoer-me por Paris, não significa absolutamente
insensibilidade por Mariana, e pelo rio Doce, onde o “Instituto Terra”,
capitaneado pelo fotógrafo Sebastião Salgado e a esposa dele, recuperou tantas
nascentes, e é uma inspiração permanente para o projeto Vidas Áridas, que
encabeço juntamente com meu amigo Geraldo Humberto e tantos outros parceiros.
Simplesmente não cabe comparação, e não é possível tentar
medir sob suas réguas, o pesar dos outros. Certamente para a mãe que perdeu o
filho levado pela lama do descaso não há tragédia maior. Mas para a humanidade
o que aconteceu em Paris traz de volta a sensação de pavor diante de um inimigo
sem rosto, que não ouve, não negocia e não poupa inocentes, e lança sua ameaça
a todos, até mesmo nos Jogos Olímpicos que se aproximam, e que serão realizados
no Brasil.
Por isso, quem colocou nas redes sociais a bandeirinha da
França tem a minha compreensão, e quem sou eu para julgar aqueles que puseram a
de Minas apenas depois dos fatos lamentáveis de Paris? Cada cabeça uma
sentença.
Quanto a mim, só me resta a bandeira do luto, que não está no
perfil do meu Facebook. Ela tremula na alma.
E o que traz um pouco de conforto é a lembrança de que hoje é
domingo e, portanto, começa uma nova semana.
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