terça-feira, 4 de agosto de 2015

A atemporal história do tempo

Estamos vivendo dias velozes. Velozes como a própria informação, que trafega em meio a um emaranhado de fios e fibras ópticas e aproxima pessoas com apenas um clique. Mas aproxima apenas virtualmente, pois a cada dia nos vemos mais e mais reféns de nossa falta de tempo e, consequentemente, longe das pessoas de que gostamos.

Enquanto os dias e semanas vão se perdendo no sorvedouro de nossas expectativas adiadas, nos vemos às voltas com nossas obrigações e reuniões inadiáveis. Então, fica a pergunta: é melhor acelerar e tentar alcançar o trem bala do destino ou deitar à sombra de uma árvore e deixar que a ociosidade se desculpe pelo caos, pelo rush e pela fumaça?

Talvez as duas opções estejam erradas. Talvez tudo que aí está esteja errado. Mas de uma coisa eu sei, não podemos negligenciar os pequenos prazeres da vida, e esses pequenos prazeres são absolutamente pessoais e intransferíveis.

Lembro-me de um livro que li, embora não me lembre o nome do autor agora- notem que eu poderia consultar o santo Google e não o fiz, pelo menos por enquanto- e que conta a história de um soldado que passa a vida toda à espera de uma guerra que nunca vem.

Enquanto isso sua vida vai sendo consumida por um forte militar em que ele se meteu e que exerce algum tipo de fascínio mortal sobre o protagonista. O nome do livro é "O Deserto dos Tártaros" e o final da obra emociona os que acompanham a vida de Giovanni Drogo. É este o nome do militar. De certa forma o fim emblemático e até certo ponto previsível do romance nos remete aos dias atuais em que muitos se dedicam obstinadamente a objetivos efêmeros, e passam sua juventude lutando por um ideal e deixam de viver a vida verdadeiramente, seja lá o que isso signifique.

Bom, a essa altura da croniqueta eu não resisti e consultei meu oráculo eletrônico. O livro é do Dino Buzatti, autor italiano que já foi comparado, com algum exagero, a Kafka graças à seu gosto pelo pessimismo e pelas soluções surreais e creio que é uma ótima alegoria sobre a passagem do tempo.

Acredito até que esse livro possa mudar sua vida, pois a mensagem clara de que não podemos desperdiçar esse milagre assombroso que é estar vivo talvez acenda uma luz qualquer aí em você, como um dia acendeu em mim, enquanto eu lia esse livro, deitado à sombra de uma árvore lá em Serranópolis, minha macondo natal.

Outro dia eu li uma entrevista antiga do Gabriel Garcia Marquez na qual ele comentava sua relação com o pai. O grande Gabo disse que antes não tinha um bom relacionamento com seu velho, mas agora que eles tinham a mesma idade se entendiam muito bem. Acho que, depois desta, não é preciso acrescentar mais nada né?

Diante da efemeridade que se perpetuem as tentativas de encontrar significado

Música do dia: Céu de Santo Amaro- Flávio Venturini e Caetano Veloso, baseada numa cantada de Bach
Filmes do dia: O clássico Sonata de outono de Ingmar Bergman e o incrível "Wiplash", que mostra o lado hardcore do jazz.
Citação dia: "A juventude é uma coisa maravilhosa. Que pena desperdiçá-la em jovens"- Bernard Shaw

2 comentários:

Anônimo disse...

Verdade Delio,eu tambem me pergunto sobre essa velocidade do tempo e sobre a questao das pessoas cada vez mais ausentes das coisas simples como as rodas em família dos grupos de amigos onde contavam "causos" davam-se muitas gargalhadas...hoje parece que as pessoas se tornaram como robôs mecânicos perderam a sensibilidade e a percepçao para as coisas que nao custam nada financeiramente falando mas trazem uma alegria e um gozo que nao tem preço e ai eu me pergunto Délio;como será daqui ha alguns anos?

Terezinha Gonçalves Barbosa

Lucidalva Fernandes disse...

Como fazer que o livro seja um produto atraente diante da concorrência de videogames, celulares, internet, DVDs?
Nos países onde a tecnologia é mais adiantada, como Alemanha e Estados Unidos, a venda de livros só aumenta. Quando surgiu a televisão, diziam que ela iria matar o rádio, e o rádio está aí, cada dia mais vivo. Antes eu tinha a enciclopédia, agora tenho a Wikipedia. Podem dizer que, por falta de papel, o livro venha a ser substituído pelo livro eletrônico. Talvez mude o veículo, mas sempre vão precisar de um Pedro Bandeira para escrever histórias.

Lucidalva Fernandes

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